2.6.05

O Corão no Ocidente e a Bíblia na Arábia

A notícia da revista Newsweek acerca de eventuais profanações do Corão nos interrogatórios de Guantanamo suscitou mais uma onda de manifestações anti-ocidentais, quer em países como a Arábia Saudita quer entre muitos intelectuais do Ocidente. O acusação era a mesma: os EUA eram o expoente máximo do imperialismo ocidental e isso estava patente no modo como os soldados americanos tratavam os prisioneiros muçulmanos.
Não se sabe se por pressão do governo norte-americano ou se por a notícia não ser verdadeira, a Newsweek retractou-se, afirmando que não tivera suficiente cuidado na verificação dos factos e lamentou as vítimas que os protestos suscitados pela notícia tinham causado.
Mas a questão da verdade ou da falsidade tornou-se, nestes temas, irrelevante: dado o mote pela Newsweek, o refrão das críticas ao Ocidente reinicia-se, começa a criticar-se a religião cristã como fonte de todas as intolerâncias e os EUA como o albergue de toda a opressão. Desta vez, o paroxismo foi a comparação, pela Amnistia Internacional, de Guantanamo com o sistema de Gulag!
Não estou aqui a defender Guantanamo: apesar de dar algum desconto aos relatos que dali vêm, creio que, pela sua pouca transparência, é um fenómeno que contradiz os princípios da justiça numa sociedade livre. Mas é dramático que a discussão sobre Guantanamo tenha feito tantos alinhar com os protestos da Arábia Saudita contra a profanação do Corão. Um Saudita residente em Washington pôs o dedo na ferida ao lembrar que, no seu país, quem tiver uma Bíblia pode ser apedrejado:
I am able to purchase copies of the Quran in any bookstore in any American city, and study its contents in countless American universities. American museums spend millions to exhibit and celebrate Muslim arts and heritage. On the other hand, my Christian and other non-Muslim brothers and sisters in Saudi Arabia - where I come from - are not even allowed to own a copy of their holy books. Indeed, the Saudi government desecrates and burns Bibles that its security forces confiscate at immigration points into the kingdom or during raids on Christian expatriates worshiping privately.

(Ali Al-Ahmed, The Wall Street Journal, 20.V.2005. Vale a pena ler o artigo e alguns dos comentários)

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