A Pronúncia do Norte
Após sair do sofisticado pacote que é o comboio Lisboa/Porto, na estação de Campanha ouve-se através dos altifalantes: “Sinhuores passageiros…”
Depois, começamos a atravessar a cidade. Não encontramos ali os projectos monumentais de uma Basílica da Estrela, de um Mosteiro dos Jerónimos ou de um São Vicente de fora, beneficiários do patrocínio régio. Mas deparamo-nos com uma sincera arquitectura granítica que pretende destacar o vigor e a capacidade empreendedora dos promotores: as ordens que rivalizam sobre quem tem o templo mais grandioso, os vistosos edifícios da Praça e dos Aliados, as casas burguesas da Boavista e da Foz ou os armazéns da Ribeira e de Gaia.
O Porto é liberal: de um liberalismo genuíno… pouco teorizado, talvez, mas genuíno, próprio de quem está longe dos centros do poder e sofrendo a influência de intensas relações comerciais com a Inglaterra. Tem o que falta a Portugal: uma burguesia sólida, culta, sem complexos de não ser aristocrática.
Uma burguesia que prefere uma casa da Siza ou Souto Moura às piroseiras da Quinta da Marinha ou da Penha Longa. Isto diz tudo!
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