3.3.05

Serras Pereira (II)

Quando, a propósito do resultado eleitoral, falei do desequilíbrio do discurso público nacional, era em casos como este que estava a pensar. No jornal em que li o famigerado comunicado, publicam-se diariamente mensagens de clínicas que realizam aborto a pedido em Badajoz; publicam-se mensagens em que morenas charmosas se apresentam como companhia agradável; publicam-se anúncios em que professor Karamba destaca a sua mestria em diversas técnicas de feitiçaria, desde a leitura nas vísceras à interpretação dos astros e aos casos de mau olhado… Para não falar já da prosa lastimável de alguns artigos de opinião em que, por vezes, encontramos teorias tão abstrusas como a de que os portugueses não lêem devido ao frio (sempre pensei que era devido ao calor!!!). Estas situações têm suscitado, por vezes, polémicas… Mas quantas delas chegaram às primeiras páginas?
Era este o motivo do espanto manifestado no post anterior: porque é que a defesa da doutrina católica por um sacerdote há-de ser motivo de escândalo? Quem é que não sabia que a Igreja considerava a prática e a promoção do aborto, da contracepção e das técnicas de fecundação in vitro como gravemente atentatórias à dignidade humana e, portanto, pecados graves? Quem é que não sabia que as pessoas em pecado grave não podem receber a comunhão? A lógica do silogismo é simples: as pessoas que praticam ou promovem o aborto, a contracepção ou as técnicas de fecundação in vitro não podem receber a comunhão! O anúncio do Pe. Serras Pereira transmite, portanto, a posição correcta do ponto de vista doutrinal.
Outro aspecto é relativo à forma que o sacerdote utilizou para comunicar a sua posição: odeia o pecado, ama o pecador, é a máxima pastoral de Santo Agostinho que transparece no comentário (ambíguo, diga-se de passagem) do Patriarca:
"Uma coisa é a condenação moral de certos comportamentos graves outra coisa é o tratamento pastoral dessas pessoas."
Nesse sentido, o Pe. Serras Pereira correu o risco de causar escândalo (não em sentido jornalístico, mas em sentido teológico) com as suas afirmações. O seu anúncio transmite, portanto, uma posição provavelmente incorrecta do ponto de vista pastoral.
Mas eu posso pensar que o Pe. Serras Pereira terá sido movido por um grave motivo de consciência… E nesse caso, que duro será sentir o pouco apoio de tantos cristãos que pactuaram com as críticas violentas que lhe foram feitas!

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