Na estrada…
A campanha para o referendo ao aborto começou oficialmente. No Domingo, milhares de pessoas desfilaram em Lisboa, manifestando o seu apoio ao Não. Como sempre nestes casos, os números variaram: a organização chegou a falar em 20.000 (segundo fontes da polícia) e os media ficaram-se pelos 10.000 (segundo fontes da polícia). Esta variação não é novidade: é assim nas manifestações da CGTP ou na partida do Dakar.
O que é novidade nesta campanha é a evidência do carácter popular das iniciativas do movimento pró-vida: em cerca de dois meses, os apoiantes do não recolheram quase 200.000 (duzentas mil) assinaturas e formaram 14 (catorze) movimentos cívicos, espalhados um pouco por todo o país.
Sem dúvida que o papel da Igreja Católica foi, aqui, definitivo: no entanto, a mobilização em torno do referendo ao aborto transcendeu, em larga medida, a actuação que a Igreja, habitualmente, consegue ter. Não esqueçamos que esta é a mesma Igreja que fracassou no projecto da TVI, a que fracassa há trinta anos na luta pela liberdade de educação ou a que fracassa constantemente na passagem da sua mensagem perante um mundo crescentemente secularizado. O movimento pró-vida envolveu os católicos (mesmo os que habitualmente ligam pouco à Igreja) com agnósticos e ateus que souberam valorizar mais a vida que as divisões que os separam.
É por isso que é de justiça afirmar que o movimento pró-vida é a mais impressionante manifestação da sociedade civil existente em Portugal. Nenhuma outra causa mobilizou tantos portugueses de forma tão duradoura.
Sem dúvida que outras causas mobilizaram mais pessoas e mereceram maior consenso: a mobilização em apoio a Timor é o exemplo mais evidente. Mas essa mobilização durou uma semana ou quinze dias. Outras causas mobilizam pessoas desde há muito tempo, mas o envolvimento da população manifesta-se, acima de tudo, na angariação de fundos para as causa que promovem, como o “Pirilampo Magico” ou a "Liga Portuguesa contra o Cancro". Há, ainda, as iniciativas que gozam de grande favor e impacto mediático, mas muito limitadas no número de pessoas que mobilizam, como é o caso de organizações ambientalistas como a Quercus ou dos movimentos LGBT.
No entanto, na sequência do referendo de 1998, foram muitas as pessoas que se comprometeram com as acções de promoção de uma cultura favorável à vida e à maternidade: algumas (uma minoria, sem dúvida) abandonaram os seus empregos para se dedicarem profissionalmente à promoção de centros de apoio à maternidade em risco; a maior parte procurou tornar compatível com os seus afazeres familiares, profissionais e sociais a participação voluntária (ora mais esporádica, ora mais regular) no apoio a esses centros. Alguns angariaram fundos; outros contribuíram com donativos; houve quem disponibilizasse o seu telefone doméstico para receber chamadas de “linhas SOS grávida” e quem se dispusesse a atender telefonemas a qualquer hora do dia, partindo imediatamente para onde a sua presença fosse exigida.
Os seus nomes? Andam perdidos nas listas dos movimentos cívicos… Andam agora - ao fim de um dia de trabalho – pelas Juntas de Freguesia e pelos fóruns locais, nas paróquias, nas escolas e na blogosfera, no jornal nacional ou no pasquim local a fazer uma campanha em que os rivais são os profissionais da política e dos media. Movem-se muito longe dos calendários político-partidários, conscientes de que a sua acção salva as vidas! Conhecem, de perto, as histórias das mulheres que foram empurradas para o aborto: as que encontraram a tempo, e aquelas a quem enxugaram as lágrimas quando era tarde demais! E depois de 11 de Fevereiro, independentemente do resultado e das políticas, continuarão a sua acção, de modo discreto, sem as condecorações que são devidas aos verdadeiros heróis!
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