29.6.05

Harry Potter

Uma onda de mails alerta-me para os perigos dos livros de Harry Potter (aguarda-se com expectativa a saída do sexto volume no próximo mês)! Alguns chegam com uma provocação: ao aconselhar tais livros, estou a colaborar com a paganização do mundo das crianças.
Entendamo-nos: os Harry Potter não são, de modo nenhum, os livros mais entusiasmantes da minha vida! Nem sequer os livros juvenis que mais recomende. Li-os por motivos profissionais e creio que têm as suas virtudes: as suas histórias fogem ao simplismo maniqueísta, estão escritas com agilidade, divertem… Não nego que há aspectos que me desagradam: acho que a abordagem da família num livro juvenil deve ser mais positiva; acho que, com muita frequência, a transgressão é mais valorizada que a rectidão; acho que a magia não deveria ser mais valorizada que a virtude.
Harry Potter é inócuo? Não. É desaconselhável? Também não! O seu universo de bruxaria e feitiçaria é fascinante para as crianças, mas não mais que os universos fantásticos das fábulas e contos populares que todos ouvimos, ora em versões mais rústicas ora com canções da Disney. O simplismo dessas histórias torna mais evidente a dualidade entre bem e mal, promovendo a formação da consciência moral. E essas histórias podem continuar a desempenhar essa função. No entanto, o mundo não se reduz ao simplismo da Gata Borralheira ou dos Três Porquinhos. Por isso mesmo, a leitura de Harry Potter pode chegar a ser um bom motivo para fomentar o diálogo familiar sobre os vários temas que são abordados nas suas milhentas páginas.
Como acontece com a generalidade dos livros (inclusive a Bíblia), Harry Potter só é nocivo se for lido sem enquadramento; mas nenhum pai responsável é indiferente às leituras dos seus filhos. O problema não está, portanto, no feiticeiro de cicatriz na testa: está, acima de tudo, na formação dos pais. Harry Potter é nocivo para aqueles que não podem distinguir a realidade e a fantasia; mas os que chegaram a essa situação são perfeitamente indiferentes à paganização: eles já são neo-pagãos! É por isso que lutar contra as varinhas do Harry Potter é uma absoluta perda de tempo: os que escutam a crítica são os quem têm o antídoto para o veneno!

1 Comentário(s):

Anonymous Anónimo escreveu...

oi Lourenço! Concordo com você, achar nociva a leitura deste livro é exagero. Eu também, por motivos pessoais e mera curiosidade, li 4 dos volumes lançados. Não o vejo como grande literatura, porém não nego minha diverção ao correr as páginas... Quanto a responsabilidade dos pais, também acho necessária a dicussão a respeito das leituras. Afinal mesmo nos cursos de pós-gradução não fica tudo mais enriquecedor após os grandes debates sobre textos lidos?

6 de julho de 2005 às 11:54  

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