22.1.05

Louçanias

Não deixa de ser significativo que o partidote fracturante que assume a defesa de todos os disparates (e, pela sua raridade, atrai a atenção da comunicação social) volte a introduzir no debate eleitoral a vida pessoal de um dos candidatos da direita. Segundo Louçã, Portas não tem direito a falar sobre o aborto porque não sabe o que é gerar um filho!? Isso mesmo: o querido líder da extrema-esquerda portuguesa, com a altivez própria das vanguardas declarou que Portas não tem direito a falar sobre um assunto; insinuou que a vida imoral de Portas é a causa de que perca esse direito!
Ora: que importa ter filhos ou não para julgar o aborto? Se alargarmos a lógica louçana, nenhum homem poderá defender nem atacar o aborto porque não sofreu nem a gravidez inesperada, nem a depressão pós aborto, nem a pressão paterna para abortar! Ou então, que concluiremos sobre o lar de Louçã quando vemos o Bloco a empenhar-se tanto na luta contra a violência doméstica?
Infelizmente, em certo sentido a lógica de Louçã é a vivida no Bloco: é o Bloco quem mais defende a liberalização do aborto porque é quem mais promove o exercício irresponsável e promíscuo da sexualidade… Por razões análogas vimos o Bloco pedir a legalização das drogas leves... ou lutar contra os polícias armados: como se poderão partir montras em manifestações anti-globalização se os polícias tiverem bastões?
Já nas últimas legislativas tínhamos observado com estranheza que os defensores dos homossexuais criticavam Portas por ser… gay. Não interessa para o caso se o é ou não! Interessa que, se alguém dos partidos da direita fizer comentários sobre a vida pessoal de José Sócrates será apodado de reaccionário, autoritário, fascista, nazi, etc. Se o querido líder fizer comentários semelhantes, tal será uma importante denúncia da hipocrisia burguesa! São as piruetas a que a esquerda nos habitou desde (pelo menos) os tempos de Estaline…

2 Comentário(s):

Anonymous Anónimo escreveu...

Orwell, um autor dessa mesma esquerda - mas mais sensato - referia-se a essas piruetas com um vocábulo da sua "novilíngua": duplipensar (capacidade de acreditar, simultaneamente, em duas ideias contraditórias).
Gonçalo

24 de janeiro de 2005 às 10:46  
Blogger Francisco Faure escreveu...

Dado o estado da política portuguesa, não são de estranhar comentários como os de Francisco Louçã. Já era tempo de as nossas universidades ensinarem retórica e arte de bem argumentar. (Será que Bolonha prevê isso?)
Na verdade, a política bloquista é uma política guerrilheira e, como tal, deveria ser expulsa dos verdadeiros combates políticos. Isto porque a política subversiva leva ao descrédito da verdadeira política pois a sua argumentação é, por norma, simplória, sentimentalista, básica, indutora de erro, falaciosa e imediata (não procurando as causas principais dos problemas mas apenas aquelas que servem para os seus próprios fins). Chego a crer que as palavras de Cavaco Silva sobre bons e maus políticos se destinavam ao Bloco de Esquerda.
Mais ainda, essa coisa de o Francisco Louçã andar por aí a partir “louça” apenas desestabiliza o verdadeiro debate, tornando-o irreal e de questionável seriedade. Sempre gostava de saber o que pretende, a nível governativo, o Bloco de Esquerda. Porque o povo português não come abortos, a economia portuguesa não melhora com os casamentos de homossexuais e o desemprego não diminui se os exames do 9º ano forem suspensos!

Já agora, Parabéns pelo blog! Tenho lido mas sem fazer comentários. E é bom saber que podemos respirar um ar tão puro nas catacumbas, quando, nestes tempos modernos, se não somos martirizados na arena, somos, tantas vezes, o alvo do escárnio de colegas, “intelectuais” e “fazedores de opinião”.

26 de janeiro de 2005 às 23:55  

Enviar um comentário

<< Home