20.3.05

Gritarão As Pedras

Com a agudeza de espírito que lhe é reconhecida Chesterton narra um diálogo entre duas personagens, Lúcifer e Miguel. Conta este, a história de um indivíduo que, impulsionado pelo ódio aos símbolos religiosos, começou por não tolerar qualquer cruz em sua casa, prosseguiu destruindo os cruzeiros dos caminhos e, certa noite, numa arrancada vitoriosa subiu ao campanário da igreja e brandiu aos céus, a cruz que o encimara. Tinha destruído, supunha ele, os símbolos da barbárie religiosa existentes na sua terra. Mas, numa cálida tarde de verão, passeando pelos campos, encontrou-se frente a uma vedação de madeira e constatou, desatinado, que ela era formada por inúmeras cruzes, unidas, que se perdiam no horizonte…Fora de si, começou a destrui-las. Quando chegou a casa, cansado pelo esforço sentou-se numa cadeira mas constatou, horrorizado, que ela era formada por travessas de madeira que se cruzavam representando o símbolo detestado…e que o mesmo sucedia com os móveis, … com os caixilhos, … com as paredes, … com o telhado…
Acabou destruindo a casa, porque…toda ela feita de cruzes, … (Cfr. La Esfera Y La Cruz, Cap. I)

Vem esta história a propósito das tentativas promovidas por alguns sectores da sociedade, e que a Globalização vai estendendo a todo o mundo, de reduzir a exigência religiosa a um conjunto light de práticas civilizadamente correctas.
As origens recentes desta atitude radicam no Iluminismo Francês, gnóstico, racionalista, defensor de uma liberdade egoísta e não solidária de macaco em jaula (a minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro), incapaz de aceitar a existência de uma religião revelada, e, por isso mesmo, ferozmente anticatólico. É este Iluminismo que influenciou parte da intelectualidade da Europa Continental e dos seus governantes.
Pretende-se hoje, mais uma vez, insidiosamente, em nome de uma falsa liberdade e da não intromissão do religioso no profano, impedir a difusão da doutrina de Cristo, retirar aos cristãos a liberdade de expressão de pensamento e manifestação pública das suas legitimas crenças, remetê-los à intimidade dos seus templos, das suas casas das suas consciências, …e, enquanto existirem, exibi-los no recinto de um parque pedagógico, devidamente isolado para evitar que a contaminação passe para o exterior, onde se mostre aos cidadãos como é prejudicial manter-se fiel “a convicções contrárias à razão humana, arcaicas e fora de moda, impeditivas do progresso dos povos e da civilização”.
Nada disto é novidade nos 2000 anos de Cristianismo e assim continuará até ao Fim dos Tempos.
Fundada por Jesus Cristo, vocacionada para ser fermento, a Igreja sobreviveu ao longo dos séculos, apesar da fragilidade dos seus membros, da incompreensão de alguns, quantas vezes marcada pelo ódio militante (ecrasez l`infâme gritava Voltaire), e pela passividade expectante de muitos, a gravíssimas vicissitudes que são, humanamente, a mais evidente prova da sua fundação divina.
Acredito, por isso, sem triunfalismos mas fundamentado numa Fé que transporto em vaso de barro, que, se alguma vez a Besta que, através dos tempos torna cada mulher e cada homem participantes do Apocalipse, conseguir, por momentos, calar a voz dos crentes, gritarão as pedras. (Cfr. Lc 19, 37-40).

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