2.4.05

Os Netos do Papa

Eu procurei-vos. Agora vós viestes ter comigo. E eu agradeço-vos.

(Palavras pronunciadas por João Paulo II, na tarde de 1.IV.2005)

A primeira vez em que se falou dos “netos do Papa” foi por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude de Paris, em 1997. Na altura, a expressão desagradou-me: pensei que ela apenas destacava a envelhecimento de João Paulo II, que se apresentou nessa ocasião bastante desgastado: em contraste com as imagens de 1978, aparecia então com o cabelo todo branco, a bengala, a corcunda mais acentuada e a tremura constante da mão esquerda, que tanto se veio a acentuar depois.
Nos anos seguintes, a expressão tornou-se cada vez mais frequente, em particular por altura do Jubileu dos Jovens e das Jornadas Mundiais da Juventude de Toronto. Curiosamente, o que antes revelava alguma ironia foi-se tornando cada vez mais literal: os netos do Papa não o eram por seguir um velho, mas por seguir um avô.
O Papa conciliava dois aspectos atractivos para os netos: por um lado falava com uma segurança que parecia vir de outro tempo; por outro lado, no seu discurso mostrava estar perfeitamente lúcido quanto aos problemas e necessidades do tempo de hoje.
Falava com uma confiança naqueles que o escutavam que parecia inabalável: quem ouviu João Paulo II nos encontros multitudinários de Santiago de Compostela, de Czestochowa ou de Paris não se encontrava num show alienante, mas sentia-se directamente interpelado. Só assim se justifica que, na sequência desses encontros, tantas pessoas tenham tomado decisões firmes que levaram a mudanças profundas nas suas vidas; decisões que não duraram quinze dias mas que se prolongaram por anos!
Alguns (poucos) zombam da morte do avô.
Muitos outros não escondem a sua admiração pelo avô Wojtyla, mesmo quando se demarcam das suas posições, que consideram compreensíveis num avô.
Mas os netos do Papa (se formos dignos desse título) deveremos mostrar-nos merecedores da herança de compromisso que João Paulo II nos lega: Não tenhais medo: Cristo sabe o que há dentro do Homem. Só ele o sabe!

3 Comentário(s):

Blogger Francisco Faure escreveu...

Requiem aeternam dona ei domine

Lourenço,

assim são os avós... e sigo-te numa das tuas frases usando apenas dois adjectivos: autoridade e caridade. Quando a autoridade é firme mas fundamentada na verdade, torna-se não em ditadura mas em "poder" pelo amor.
A herança que recebemos, é a do exemplo de uma vida para Deus. E haverá herança mais rica do que esta?
Já agora Lourenço, continua a dar-nos esta boa ajuda para sermos merecedores da herança com este Blogg!

Um abraço

2 de abril de 2005 às 23:40  
Anonymous Anónimo escreveu...

Apesar de toda a justificação, não gosto da expressão "os netos do Papa" ou, referindo-se a João Paulo II, "o Papa dos jovens". Considero que o Santo Padre e, em concreto, o que acabámos de perder é muito mais do que um Avô ou alguém preocupado com uma parte da humanidade.
O Sumo Pontífice é Pai, ser pai é mais do que avô e é dos mais novos, de mim e dos que têm mais de 84 anos.
Quando perdi os meus avós sofri muito, mas não me senti orfã; hoje, o meu sentimento é de orfandade: foi a morte de um Pai!

3 de abril de 2005 às 16:08  
Blogger Pedro F. escreveu...

Apolónio: obrigado pelo comentário de ânimo.
Maria: dizia a minha avó que as avós são mães duas vezes... Assim com o Papa João Paulo II: ser pai uma vez não chegava; foi o avô!

11 de abril de 2005 às 11:38  

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