20.8.05

JMJ V - Marienfeld

O dia de hoje amanheceu bastante nublado. Perguntei aos voluntários qual o prognóstico: Bad! O jornal anunciava tempestade de verão na Renânia, com aguaceiros fortes e trovoada. Após a Santa Missa, pegámos nas nossas mochilas do peregrino e lá começámos a andar, primeiro nos transportes públicos, depois a pé, até Marienfeld, a antiga mina a céu aberto que serve de cenário ao encerramento destas JMJ. Dentro das mochilas vão os impermeáveis e os guarda-chuvas. Apesar do tempo, o pessoal está animado. Na última parte do percurso, uns 6 ou 7 quilómetros que fazemos a pé entre a paragem do autocarro e o Campo de Maria, misturam-se os vivas ao Papa com cânticos tradicionais ou religiosos. As fileiras de peregrinos vão engrossando à medida que nos aproximamos de Marienfeld, bem como a desorientação. Começo a acreditar que a ordem germânica não é mais do que um mito: não há indicações, e limitamo-nos a ir indo atrás dos outros.
Depois de duas horas de caminho chegámos: Marienfeld é uma enorme área com uma pendente suave. Ao fundo, sobre uma enorme colina artificial, um enorme balão marca o altar papal. Antes da chegada do Papa serviu de palco para actuações musicais. Instalámo-nos no sector que nos foi indicado, mas rapidamente nos demos conta de que, naquela enorme esplanada, não há uma única barreira… O que para um germânico é impensável, para os latinos é evidente: rapidamente ocupámos o caminho em frente ao altar papal.
Enquanto esperávamos pelo Papa aproveitámos o tempo de diversas formas: rezámos o terço, jogou-se xadrez, foram-se conhecendo os companheiros de peregrinação: um jovem sacerdote brasileiro que vive em Roma; um bancário da Baviera (conterrâneo do Papa) que entra de férias amanhã e que, como não fica para o almoço, nos vem oferecer a comida que lhe sobra; um casal de Hamburgo; um grande grupo de Polacos; um pequeno grupo de americanos; milhares de italianos (Italiani batti i germani, dizem eles) Para superar a barreira da língua, mais do que o inglês, há uma língua universal da caridade. Com grande naturalidade se fala do modo de vida cristã de cada um: o que costuma rezar, qual o carisma da instituição a que está vinculado, quais as devoções de cada região…
Os estranhos horários alemães chocam com os hábitos portugueses: já ontem a Via Sacra tinha calhado com a hora do jantar nacional: começou à 19h30 e acabou por volta das 22h00. O mesmo se passa hoje: quando nos preparamos para jantar ouve-se: O Santo Padre está a caminho de Marienfeld! Algum tempo depois a música pára. Nos ecrãs vê-se a imagem do automóvel do Papa, que entra no campo entre as saudações dos peregrinos. Pouco tempo depois, ainda com luz, começa a vigília.
A primeira parte foi uma celebração da Palavra que culminou com o discurso de Bento XVI. Uma vez mais, uma longa introdução analítica a partir do Evangelho que foi proclamado, seguida da conclusão:

Deus é diferente; agora [os magos] dão-se conta disso. E isso significa que agora eles mesmos têm que ser diferentes, têm que aprender o estilo de Deus. […]

Aprendem que devem entregar-se a si mesmos: um dom menor que este é pouco para este Rei. Aprendem que sua vida deve acomodar-se a este modo divino de exercer o poder, a este modo de ser de Deus!

(Bento XVI, Discurso na vigília com os jovens, 20.VIII.2005)

Depois de se referir aos Santos, pronuncia as palavras que arrancam aplausos da multidão:

Os santos, dizemos, são os verdadeiros reformadores. […] só dos santos, só de Deus, provem a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo. No século passado vivemos revoluções cujo programa comum foi não esperar nada de Deus, mas tomar totalmente nas próprias mãos a causa do mundo para transformar suas condições. E vimos que, deste modo, um ponto de vista humano e parcial se tomou como critério absoluto de orientação. À absolutização do que não é absoluto, mas relativo, chama-se totalitarismo. Não liberta o homem, mas priva-o da sua dignidade e escraviza-o. Não são as ideologias que salvam o mundo, mas somente dirigir o olhar ao Deus vivente, que é nosso criador, o garante de nossa liberdade, o garante do que é realmente bom e autêntico. A revolução verdadeira consiste unicamente em olhar a Deus, que á a medida do que é justo e, ao mesmo tempo, é o amor eterno. E, o que pode salvar-nos senão o amor?

(Bento XVI, Discurso na vigília com os jovens, 20.VIII.2005)

Depois, num intermezzo entre a celebração da palavra e a adoração eucarística, um malabarista reza de um modo muito especial: faz malabarismo diante da imagem de Nossa Senhora.

Após adorarmos a Eucaristia e recebermos a Bênção do Santíssimo Sacramento despedimo-nos do Papa.

A noite está fria e húmida, mas não choveu e o céu parece mais limpo. Marienfeld já não é um conjunto de quadrados de 100 x 100 metros de relva: neste momento são quadrados de 100 x 100 metros de sacos-cama. Quando saímos dos caminhos tiramos os sapatos, e vamos até ao nosso saco-cama pisando o tapete dos milhares de sacos-cama que nos rodeiam. Os ecrãs deixaram de dar imagem: dão apenas indicações sobre gente perdida. Nas colunas de som deixaram de soar os cânticos e dos avisos. O silêncio em Marienfeld convida a alguns momentos de oração na tenda do Santíssimo (montada ao fundo do campo) e ao descanso.

1 Comentário(s):

Anonymous Anónimo escreveu...

... convida ao descanso e ao trabalho.
Aqui o "je", "volunteer" pois então, passou a noite a trabalhar.

Foram 8 horas de trabalho, a guardar uma das portas do recinto durante toda a noite. Pensávamos que não ia aparecer ninguém, mas enganámo-nos.

Entre as 0h e as 8h centenas de pessoas se dirigiam a nós a perguntar onde era a "Capela do Santíssimo"... Tinham mesmo ido para O adorar!

8 de setembro de 2005 às 12:12  

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