Votar Cavaco!
Cavaco Silva tem feito uma campanha estranha, marcada pela contenção, pelo respeito e (mais do que eu gostaria) por muito silêncio. No entanto, entendo tão bem o silêncio de Cavaco quanto os seus nim’s nas matérias mais folclóricas.
O meu voto em Cavaco talvez se baseie numa utopia: a crença em que ainda é possível remar contra a corrente da história, e que Portugal pode sair da cauda de uma Velha Europa que, se escapar à balcanização, se arrisca a ser olhada pela nova centralidade do Pacífico do mesmo modo como agora olhamos a Grécia: uma civilização extraordinária, mas definitivamente perdida.
Cavaco demarca-se do que tem sido a causa do nosso atraso: a fé na possibilidade redentora do Estado, canonizada por uma opinião pública na qual persistem contra todas as evidências as modas da esquerda. Por isso, o silêncio de Cavaco fala, como um lamento sobre o nosso país, que exalta Soares com pai da democracia, esquecendo a enorme tarefa que o mesmo Cavaco teve que realizar (às vezes contra a Constituição) para que as liberdades básicas chegassem ao mercado, aos media, ao ensino, etc.
Por outro lado, o silêncio de Cavaco é uma afirmação de não-alinhamento com o politicamente correcto: Cavaco sabe que é urgente um contrapeso de marca liberalizante face a um governo socialista. Mas sabe também (pela razão acima referida) que uma exposição mais clara seria ocasião para uma onda de protestos lamentável, dizendo que ele pretende governar, e não moderar. Ao longo da semana que passou, quando Soares e Alegre saíram da poesia do seu suposto humanismo, só debitaram medidas legislativas. Mas se Cavaco fala da importância de reunir periodicamente com o Governo, dirão logo que ele não quer ir para Belém, mas para S. Bento.
Por tudo isto, Cavaco é o único candidato que pode recentrar o debate político! Mais ainda: Cavaco tem que ganhar para recentrar o debate político. Só com ele, Portugal pode vencer!
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