3.4.07

O Megafone de Deus (II)

Talvez valha a pena descrever alguns dos nossos amigos destes dias, para que se possa entender melhor este trabalho.

Quando falamos em deficientes profundos estamos a falar de pessoas que não conseguem valer-se a si próprias para a maioria das actividades que desempenham: a maioria não fala e os poucos que falam fazem-no de modo muito difícil de compreender (pelo menos para mim). Há um número muito significativo de deficientes em cadeiras de rodas, muitas vezes amarrados para não caírem nem fugirem. Há também muitos que caminham com certo à vontade, mas é necessário ter especial cuidado com esses, para que não fujam quando se está mais distraído.

É interessante ver como o pessoal do centro (empregadas, terapeutas, etc.) exige os deficientes: a quem pode comer por sua conta, não se dá comida; quem tem capacidade para comer de faca e garfo não come só com a colher; os que podem beber a água por um copo, não bebem por uma palhinha… Isto pode parecer óbvio, mas quando se trata de um centro com quase 70 deficientes, o mérito é muito mais significativo. Tal como na educação das crianças, muitas vezes é mais fácil fazer que ensinar: o trabalho que dá limpar a mesa, o babete e a roupa de alguns deles no final de uma refeição poderia sugerir que é melhor dar-lhe a comida à boca. Mas estamos a falar de pessoas, únicas e irrepetíveis e, por mais incrível que possa parecer, pessoas com uma missão providencial. Na sequência do meu texto de ontem, encontrei uma citação de João Paulo II, recolhida num discurso de Bento XVI, que aponta caminhos para o enquadramento do mistério do mal:

O mal... existe no mundo também para despertar em nós o amor, que é dom de si...

(João Paulo II, Memória e Identidade, citado por Bento XVI, Discurso à Cúria Romana para apresentação do votos de Boas Festas, 22.XII.2005)

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