29.1.05

O Pecado

É um fenómeno curioso… Apesar de estarmos em pré-campanha eleitoral os posts que têm suscitado mais comentários são os que dizem respeito ao fenómeno religioso, e à historicidade do Evangelho em particular. Assim, contámos com os comentários de Armila, do Gonçalo e, mais recentemente, do Apolónio.
Nesta semana, um conferencista referia que, num fórum universitário de Lisboa, 40 estudantes tinham assistido a uma sessão sobre a historicidade dos Evangelhos, facto que, há cinco anos atrás, seria absolutamente impensável. Há, sem dúvida, um regresso do religioso à nossa sociedade, regresso que suscita esperanças e, simultaneamente, apreensões.
Esperanças porque constatamos que, nas suas tentativas de superar a religião, o século XX acabou por contar-se entre os mais sangrentos – senão mesmo o mais sangrento – da história humana. Apreensões porque esse regresso à religião mantém a aspiração dos humanismos ateus: a ideia de que o homem se salva a si próprio!
Não em vão, quando nos referimos aos mestres de suspeita dissemos que nunca se isentaram tanto de culpa os criminosos e os pecadores como no nosso tempo. Diz-se que a culpa morreu solteira, que não é de ninguém… um pouco de exegese bíblica mostra como desde o paraíso terrestre um Adão atrapalhado remete a culpa do seu erro para Deus, dizendo “A mulher que puseste ao meu lado deu-me do fruto…” E a mulher acusada afasta de si a culpa, dizendo que a serpente a enganou… Se não há culpa, não há pecado, se não há pecado, não há, de facto, necessidade de salvação!
Mas se eu sei – não o duvido – que nem sempre o bom se identifica com o apetecível; se eu sei – melhor ainda – que sou capaz de trocar o bom pelo apetecível: então eu sei que sou verdadeiramente livre, capaz de escolher os meios para atingir os meus fins… e capaz de escolher fins errados. Dizia Chesterton:
“Certain new theologians dispute original sin, which is the only part of Christian theology which can really be proved.” (Ortodoxy)
De facto, o reconhecimento da condição da falibilidade humana – do pecado, como lhe chamámos durante tantos séculos – é a primeira condição para abandonar a ubris da razão e reconhecer que necessitamos de um Salvador.

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