7.2.05

O que eles querem...

Acontece em algumas regiões do Minho e da Beira que a igreja paroquial e o cemitério se encontram no cruzamento em que convergem as estradas das diversas aldeias que constituem a freguesia.
Numa dessas freguesias, a Igreja apoiou, há muitos anos, a construção de um campo de futebol. Mais tarde, terrenos do antigo passal da igreja foram oferecidos para a construção da sede da Junta de Freguesia e da creche. Alguns anos depois, foi também edificado um monumento ao Imaculado Coração de Maria. Nas festas dessa freguesia, a procissão segue um percurso tradicional: sai da igreja, desce 50 metros até à capela de Sta. Luzia, sobe 100 metros até ao monumento ao Imaculado Coração de Maria (em frente à Junta de Freguesia) e volta a descer 50 metros, para regressar à Igreja. Isto sucede, pelo menos, há dezenas de anos.
O orago da freguesia em questão é S. Pedro, comemorado a 29 de Junho. Se esse dia não for Domingo, a festa é transferida para o Domingo mais próximo. Foi o que aconteceu em 28 de Junho de 1998. Só que nesse dia referendava-se a liberalização do aborto. O Pároco, com grande sensatez, decidiu alterar um pouco a tradicional procissão: o andor de S. Pedro e os paroquianos desceram os 50 metros entre a igreja e a Sta. Luzia e regressaram à igreja, evitando a Junta de Freguesia. Desse modo, não se poderia dizer que a Igreja tinha procurado condicionar o acto eleitoral, nem se podia afirmar que fizera campanha em frente às mesas de voto no dia das eleições. Durante a procissão, um dos vogais da junta, que é o chefe do coro e toca o órgão na igreja, entoou a música que, também habitualmente, se canta nessas procissões: Queremos Deus. Trata-se de uma música mundialmente difundida pela Acção Católica sobre a importância da liberdade de expressão religiosa.
Imaginemos agora que um jornalista incauto se deparava com o fenómeno: é fácil imaginar um título: Igreja viola lei eleitoral; no lead da notícia ficaríamos a saber que a Igreja pressionou os eleitores com manifestação junto às mesas de voto; e se a fúria contra este desrespeito da democracia nos não impedisse de continuar a ler o resto, ainda veríamos as referências aos cânticos contra as leis injustas e imorais.
Ridículo, talvez. Mas foi isto que aconteceu com as palavras do P. Lereno que, no Domingo passado, tanta celeuma causaram. Como acontece com frequência, o P. Lereno repetiu a doutrina da Igreja sobre a actuação política dos católicos. Logo, os tolerantes da extrema-esquerda, defensores de todas as minorias, vieram levantar objecções à liberdade de expressão dos católicos: a Igreja não deveria intervir na campanha; o P. Lereno não representa a Igreja; os católicos não devem deixar-se orientar por tais opiniões.
É curioso como, de repente, os fiéis da cartilha marxista se tornaram experts em eclesiologia: eles, como boa vanguarda, sabem melhor que qualquer outro o que a Igreja deve pensar; sabem o que o P. Lereno deve ou não dizer, bem como o Papa ou o Cardeal Patriarca. Eles sabem tudo: caso contrário, não seriam fiéis agentes do sentido imparável da história revolucionária.
É interessante notar como factos triviais (Portas a falar sobre o aborto ou a homilia dominical de um pároco lisboeta) tornam tão evidente o estalinismo latente nos discursos do PCP e do BE. Não nos enganemos nem um milímetro: eles são assim! Eles, que se queixam do apelo do P. Lereno a que os católicos não votem em partidos cujos programas sejam contrários à doutrina cristã, não hesitaram em queimar a efígie do Papa diante da Assembleia da República nas manifestações pela liberalização do aborto; desse modo misturam a religião e a política para, depois, acusarem os católicos de misturarem política e religião. Eles continuam, como no século XIX, a difundir uma ideia dos católicos como uma sub-espécie acabrunhada de supersticiosos; para que os católicos se sintam como uma sub-espécie acabrunhada de supersticiosos. Eles exigem o direito ao reconhecimento para todos: gays, lésbicas, bi e transexuais, vegetarianos, ba’haistas, muçulmanos, animistas e tudo quanto cheire aos carnavais da alter-globalização… excepto para os católicos!
Eles querem, no fundo, que regressemos às catacumbas, para lhes deixar o campo aberto à construção do seu Homem Novo… Mas isso não acontecerá, pelo menos enquanto houver quem tenha a coragem de denunciar publicamente as suas intenções, como o P. Lereno!

1 Comentário(s):

Anonymous Anónimo escreveu...

Ainda bem que Jerónimo de Sousa não quis dar grande relevância ao assunto dizendo que os Portugueses estão mais preocupados com assuntos mais prementes.
Vamos a ver se a coerencia criticada aos católicos que se afirmam como tal faz escola na política.

19 de fevereiro de 2005 às 03:05  

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