A madrugada em Marienfeld anunciava um dia solarengo… mas à medida que o sol se erguia, as nuvens regressaram. Desta vez, a minha pouca fé já tinha aprendido uma lição com o dia de ontem: ao contrário do que previam os meteorologistas, a tempestade não se abateu sobre a Renânia. Comecei a acreditar nos que, com mais visão sobrenatural (ou uma boa dose de optimismo) afirmavam: não vai chover! E deixei de me preocupar com o tempo. Creio que isso nos ajudou a todos a seguir meljor as cerimónias. Até regressarmos aos alojamentos o céu suspendeu as águas, que tão abundantemente caíram, como viemos a saber mais tarde, no sul da Alemanha.
Aos poucos Marienfeld foi acordando. A noite não foi mal passada mas de madrugada, com algum ruído e com o frio a apertar, passou-se um pouco pior. Valeu-nos o café ou chá quente que os voluntários serviram…
As colunas de som decretaram o despertar geral ao som do hino das JMJ de 2000, em Roma: Emmanuel! Alguns aproveitaram esse tempo prévio à chegada do Papa para ir à tenda de adoração, enquanto outros tomavam o pequeno-almoço. Rezaram-se as laudes, com a profusão de cânticos a que nos habituámos desde a vigília de ontem. Independentemente da qualidade da música destas JMJ, há algo que me ocorre destacar: fazendo jus à tradição de música litúrgica alemã, nas celebrações destes dias o canto fez mais que servir de intermezzo entre as partes da liturgia: a música foi uma forma de oração.
Bento XVI voltou a Marienfeld pedindo desculpa por não poder estar mais perto de nós: os germânicos não previram que os latinos, obviamente, iriam ocupar os caminhos não vedados pelos quais o Papa deveria passar. Na homilia, após a um bela e densa introdução, falou com uma frontalidade que valeu os aplausos dos jovens ali reunidos:
[O fim-de-semana] permanece vazio se nele não está Deus. Queridos amigos: […] não vos deixeis dissuadir de participar na Eucaristia dominical e ajudai também os demais a descobri-la. Certamente, para que dela emane a alegria que necessitamos, devemos aprender a compreendê-la cada vez mais profundamente, devemos aprender a amá-la. Comprometendo-nos a isso, vale a pena! Descubramos a íntima riqueza da liturgia da Igreja e sua verdadeira grandeza: não somos os que fazem festa para nós, mas sim, ao contrário, o próprio Deus vivo que prepara uma festa para nós. Com o amor à Eucaristia redescobrireis também o sacramento da Reconciliação, no qual a bondade misericordiosa de Deus permite sempre iniciar de novo nossa vida.
Quem descobriu a Cristo deve levar a outros para Ele. Uma grande alegria não se pode guardar para si mesmo. É necessário transmiti-la.
Para assegurar a formação recta da consciência cristã, o Papa deixou conselhos bem práticos:
O Papa João Paulo II nos deixou uma obra maravilhosa, na qual a fé secular se explica sinteticamente: o «Catecismo da Igreja Católica». Eu mesmo, recentemente, pude apresentar o «Compêndio» de tal Catecismo, que foi elaborado a pedido do falecido Papa. São dois livros fundamentais que queria recomendar a todos vós.
[…] Buscai a comunhão na fé como companheiros de caminhada que juntos vão seguindo o itinerário da grande peregrinação que primeiro nos assinalaram os Magos do Oriente. A espontaneidade das novas comunidades é importante, mas é desta forma importante conservar a comunhão com o Papa e com os Bispos. São eles os que garantem que não se estão buscando sendas particulares, mas que por sua vez se está vivendo naquela grande família de Deus que o Senhor fundou com os doze Apóstolos.
Após o final da Eucaristia, Bento XVI falou em português:
Saúdo aos jovens de língua portuguesa. Queridos jovens, desejo-vos que vivais sempre em amizade com Jesus, para experimentar a verdadeira alegria e comunicá-la a todos, especialmente a vossos irmãos que se encontram em dificuldade.
Enquanto se despedia de nós, as imagens do Papa rodeado por 1.000.000 de jovens traziam-me à memória imagens semelhantes, com João Paulo II: tão diferentes, mas tão próximos!
Pouco tempo depois da partida do Papa, parecia que em Marienfeld se tinha travado uma batalha: o milhão de pessoas que aí tinha estado começara já o regresso e para trás ficavam os sacos de lixo, os plásticos com que se tinham protegido contra a humidade, sacos-cama, colchões de ar!!! Pensámos ficar mais tempo por ali, na esperança de que, se partíssemos mais tarde, o caos seria menor. Mas a tarde não estava agradável, e a actuação de Cliff Richard estava bem longe de nos cativar para permanecer mais tempo entre a relva húmida e a lama de Marienfeld. Após o almoço dos últimos farnéis juntámo-nos ao milhão de caminhantes que empreedera já o caminho de regresso.
Os cinco ou seis quilómetros a pé fizeram-se com alguma facilidade (apesar do cansaço) cantando à desgarrada… Depois foi o caos: tivemos a sorte de “conquistar” um autocarro para o nosso grupo que nos levaria até a uma estação de metro. Pouco depois foi o colapso dos transportes: alguns do nosso grupo chegaram aos alojamentos por volta das 11h00, mais de dez horas passadas sobre o final da celebração e vinte quilómetros percorridos a pé, entre Marinfeld e o centro de Colónia.
Quanto a mim, nunca uma paragem de metro me soube tão bem! E após dois dias de Marienfeld as salas de aula dos alojamentos fizeram esquecer qualquer hotel de cinco estrelas! Encaro até com algum humor a nossa nova situação: nos nossos novos alojamentos somos um terço dos peregrinos e temos metade dos chuveiros: ou seja, temos um chuveiro para cem pessoas!!! O que não é mau de todo: enquanto espero pela minha vez (faltam cerca de 45 minutos) vou terminando estas notas.
1 Comentário(s):
Desculpa, Senhor, todos aqueles Domingos em que não te encontrei, e em que o meu lugar da Igreja ficou vazio.
Agora é que vai ser. Vou-me confessar e (re)começar de novo!
Sou tão mais livre conTigo!
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