5.4.07

O megafone de Deus (IV)

O que ainda há poucos dias era uma novidade tornou-se agora uma rotina! Nos primeiros dias demorámos quase uma hora a dar as refeições; agora, pouco mais de meia hora chega. Como o tempo melhorou há muito menos tempos mortos: cada pedacinho é aproveitado para ir para o pátio apanhar sol ou para dar um passeio maior pelas ruas em torno do centro. Como também já estamos mais à vontade, já conseguimos ter mais iniciativas: arranjar uma porta que não fecha bem, limpar janelas de acesso mais difícil, compor uma fechadura ou colocar quadros na parede.
Além disso, hoje é quinta-feira Santa, e o sacerdote que nos tem acompanhado nestes dias disponibilizou-se a celebrar a Missa na capela do centro, não apenas para os voluntários, mas para a comunidade de religiosas que aqui mora, para as funcionárias e para os utentes do centro. A tradicional cerimónia do “lava-pés”, que se realiza na Missa deste dia, foi dispensada com a consideração de que neste local, o quotidiano é já encarnação do Mandamento Novo de Jesus:

ut diligatis invicem sicut dilexi vos.

(Jo. 15, 13)

É algo que não referi ainda, mas que é de justiça reconhecer: este centro é fruto do empenho caritativo de muitos cristãos que, com o seu trabalho ou a sua esmola, o colocaram de pé. Apesar de o centro ser sustentado, na sua maioria, por contribuições da Segurança Social ou dos familiares dos utentes, as receitas seriam sempre insuficientes para fazer frente aos elevados encargos que tem se não houvesse contribuições generosas de benfeitores que, de acordo com as suas possibilidades, vão ajudando no que é necessário. Para se ter uma ideia, há cadeiras de rodas que rondam os €5.000,00… e não se trata de um luxo, mas de uma necessidade quer dos utentes quer dos funcionários que com eles lidam diariamente. E quem fala em cadeiras de rodas fala em macas, sondas, camas articuladas…
Mas mais extraordinário que a contribuição para o centro é o trabalho dedicado de quem, diariamente, enfrenta este “choque de realidade”… Hoje tivemos a visita de uma jornalista que vinha fazer um trabalho sobre o centro. Uma das pessoas da Direcção animou-a a falar do trabalho que aqui se faz na perspectiva dos voluntários. Nós aceitámos (disso falarei noutro dia), mas não sem achar injusto: não é heróico vir para aqui cinco dias … é heróico permanecer aqui ano após ano.

1 Comentário(s):

Anonymous Anónimo escreveu...

Gostei imenso do seu testemunho.
Tocou-me imenso.
Ainda bem que existem instituições e pessoas, quer profissionais quer voluntários, capazes de dar um pouco ou mesmo toda a sua vida a cuidar dos outros, contrariando esta sociedade cada vez mais materialista que olha com desconfiança e desprezo estes seres considerados "inúteis", mas que nos dão, a nós os "úteis" e os "normais" tantas lições de amor. Se calhar eles é que estão mais próximos de Deus !

18 de abril de 2007 às 21:17  

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