25.12.04

O Burrico do Presépio de Belém

Hoje, leitor amigo, em quem penso enquanto escrevo, veio-me à lembrança a história do burrico do Presépio de Belém que um dia li deliciado. Dias a fio, perseverantemente, aquele burrico humilde, aparentemente destinado a não ter história - era apenas um entre tantos outros - aqueceu, com a sua presença e o seu bafo, o Menino Jesus. Mas um dia, na vida de cada um de nós há sempre um dia, uma grande azáfama inundou o local. Gente da estranja, com fatos multicolores, vasta criadagem, montada em camelos, perguntava afanosamente pelo Rei que vinha adorar. 0 burrico estava espantado: quanta luz, quanta riqueza, quanta história maravilhosa de viagens e terras distantes... Mas, o que mais lhe chamava a atenção eram os camelos... "Como deve ser bom - pensava ele - ser camelo! ... esguio, pernas ágeis e resistentes, a bossa coberta de finas roupagens, transportando gente importante..." Quando os Magos partiram, o burrico, como que hipnotizado, sem um adeus, abandonou o Presépio e seguiu a lustrosa caravana. Seguiu-a de longe, receoso de ser enxotado, com medo das feras e de um formigueiro que sentia percorrer-lhe todo o corpo... Com sede, aproximou-se de um regato que corria perto. Ficou espantado. "Não! Não podia ser!" Olhou em volta e depois olhou para si ... De facto não era ilusão. 0 burrico do Presépio transformara-se num jovem e esbelto camelo orgulhoso, muito orgulhoso da sua bossa. À noite nem dormiu. Sonhou com o futuro que tão estranhamente, se lhe abria radioso. Depois os dias passaram correndo em tumultuosas e constantes novidades que lhe faziam abrir a boca de espanto. De vez em quando, durante o tropear das viagens ou no silêncio da noite, parecia-lhe ouvir o galrejar do Menino, sentir a mão da Senhora que lhe acariciava a manchita branca da testa, ver os gestos serenos de José que o mimava com palavras enquanto lhe acomodava a palhita fresca e saborosa. "Atavismos! Falta de maturidade!" pensava o burrico que entretanto se civilizara e aprendera algumas verdades científicas... E de novo se emaranhava no tumulto que o envolvia. Mas um dia, na vida de cada um de nós há sempre um dia, a saudade do Presépio pungiu-o mais fundamente... E sem hesitações, sem olhar para trás, num rápido galope pôs-se a caminho de Belém. Quando chegou empurrou a porta com o focinho para entrar. Mas... que desilusão! A bossa aquela bossa de que tanto se orgulhara um dia, impedia-o agora de passar pela porta demasiado pequena para a sua corpulência. Tentou rastejar mas... nem assim. Então desamparado, deitou-se à porta chorando amargamente... E, mistério profundo! À medida que as lagrimas, lhe caíam dos olhos e regavam o chão, aquela bossa que o impedia de entrar, ia-se desfazendo lentamente... Uma suave brisa afastou as nuvens e o luar inundou a terra... Por entre lágrimas, o burrico viu a sua imagem reflectida, a imagem do burrico do Presépio que regressava a casa. E, sem ruído, foi ocupar o seu lugar. Aqui interrompo a história do burrico do Presépio. Imagino, que fez história servindo, até ao fim dos seus dias, a Jesus, apesar de algumas teimosias, zurros e pinotes toleráveis num burrico. Aqui entronca também a história de cada um de nós, os homens e as mulheres, que, vezes sem conta, abandonamos o Presépio ofuscados por ouropéis falaciosos. Cada dia do ano será Natal, como o leitor e eu desejamos, se, quando fugirmos, soubermos, com dor de amor e humildade, voltar para Jesus. Se o fizermos sentiremos na nossa a Sua mão reconfortante; sentiremos o afago de Santa Maria, Mãe, de Deus e nossa Mãe; ouviremos a voz forte e serena de S. José, nosso Pai e Senhor a dizer-nos: "Ânimo! Arrebita essas orelhas! Juntos temos muito caminho para andar".

24.12.04

Um Santo Natal

16.12.04

O aborto por razões psíquicas raramente se justifica

Não há nenhuma situação em que a gravidez seja causa directa e inequívoca "de lesão grave e duradoura para a saúde psíquica" - logo o aborto por razões psíquicas previsto na lei portuguesa raramente se justifica. É este o conteúdo do primeiro parecer oficial produzido sobre o assunto pela Ordem dos Médicos. Público, 16-12-2004.
Este dado é significativo: em Espanha, cerca de 97% dos abortos são feitos por razões de saúde psíquica da mulher...

10.12.04

Anticlericalismo latente... e irresponsável!

Em Espanha, a Secretária de Estado dos Assuntos Sociais apelou aos seus compatriotas para não darem a parte do imposto que pode ser destinada às instituições de solidariedade à Igreja Católica. Ter-se-á dado conta de que está, levianamente, a pôr em risco o quotidiano dos milhares de pessoas que dependem das instituições socio-caritativas da Igreja?
Neste mesmo sentido, não deixa de ser preocupante que alguns celebrem o descalabro financeiro de algumas dioceses norte-americanas devido às indemnizações a pagar às vítimas de abusos sexuais por membros do clero. Há um certo sabor a vingança anticlerical nos discursos sobre a situação que revela um desconhecimento notável sobre a acção social da Igreja Católica (desconhecimento que, infelizmente, vai sendo habitual) .
Os indemnizações são justas... não é isso que está em causa: se houve abusos provados há lugar a uma reparação.
No entanto: a celebração em torno dessas reparações (que já levaram à bancarrota de duas dioceses e obrigaram ao encerramento de centenas de centros paroquiais por todo o território dos EUA) esquece que, para as pagar, foi necessário encerrar creches, dispensários médicos, centros de dia para idosos, escolas paroquiais e diocesanas, instituições de beneficência infantil, fundações para a promoção das artes e um longo etc. Talvez seja por implicar uma menor presença dos católicos na sociedade que os anticlericais celebram, mesmo sem dar conta do preço abusivo que se pagou. Celebrar tal descalabro corresponde a celebrar o encerramento de uma escola porque um professor abusou sexualmente de um aluno; ou encerrar um hospital devido aos abusos de médicos e enfermeiros (é verdade: é maior a percentagem de professores, médicos e enfermeiros que abusam das crianças que lhe são próximas que a de padres e ministros de outros confissões religiosas).
O anticlericalismo latente nestas posições é, afinal, tremendamente irresponsável!

5.12.04

Regresso às Catacumbas

Escreveram-me a dizer que as Catacumbas eram uma péssima ideia, pois representavam uma fuga!
Respondo que se as Catacumbas da antiguidade serviram (nos momentos de perseguição sangrenta) como ponto de refúgio a uma morte mais que provável, elas serviram também (nos restantes períodos) como ponto de encontro para os cristãos que, sem correr perigo de vida por causa da sua fé, se viam impedidos de a professar livremente.
Daí que falar em regresso às catacumbas não signifique uma fuga, uma desistência... Significa, isso sim, o regresso às fontes de uma força renovada, para ser o sal da terra!

3.12.04

A Espanha nas Catacumbas

Maria Teresa Fernadez de la Vega, vice-presidente do "governo paritário espanhol que não tem uma co-presidente" (ou será que, para agrado de Zapatero se deveria dizer co-presidenta ou co-president@), inquiriu de forma irónica sobre as razões que levariam a que a Igreja de Espanha se sentisse perseguida pelo Governo. O site HazteOir elaborou uma Cronica de los ataques del gobierno del PSOE a la Iglesia Catolica, coleccionando as respostas mais significativas à senhora vice-presidente/a/@.
Convém ir conhecendo a cartilha do laicismo militante que, depois da França ou da Espanha, não deixará, sem dúvida, de atingir Portugal.