30.4.05

Quem diria: a esquerda traiu o patriarca!

A propósito das Zapateradas, chegou-me este pequeno excerto:
Quem contrai matrimónio não cria, não inventa o matrimónio, do mesmo modo que o nadador não inventa a natureza ou as leis da água ou da gravidade.
Karl Marx

29.4.05

Sta. Catarina de Sena


Padroeira das Catacumbas.

26.4.05

O que Wojtyla pensava de Ratzinger

(Gentilmente enviado pelo Apolónio)
Estreitei amizade também com os alemães. Com o cardeal Alfred Bengsch, que tem um ano a menos que eu; com Joseph Höffner de Colónia, e com Joseph Ratzinger, eclesiásticos de excepcional preparação teológica. Lembro-me, em particular, do então muitíssimo jovem professor Ratzinger. Ele acompanhava no Concílio o Cardeal Joseph Frings, arcebispo de Colónia., na qualidade de especialista em teologia. Foi sucessivamente nomeado arcebispo do Munique pelo Papa Paulo VI, que o fez cardeal, e participou no conclave em que me foi entregue o ministério de Pedro. Quando morreu o cardeal Franjo Seper pedi-lhe que o sucedesse no cargo de prefeito da Congregação para a Doutrina da fé. Dou graças a Deus pela presença e ajuda do cardeal Ratzinger, que é um amigo de confiança.
(João Paulo II, Levantai-vos, Vamos!, 2004)

25.4.05

25 de Abril

24.4.05

Ainda sobre entrevistas eclesiais ao Expresso

Já agora: quem afirma que "os cardeais votaram por medo" parece ter estado alheado de toda a informação publicada ao longo da semana! Será que Martini (ou um qualquer desconhecido) suscitaria as mesmas apreensões que suscita Ratzinger?
Mas, mais grave que isso, é simplificar a eleição do Papa ao voto dos cardeais: na catequese aprendi que era o Espirito Santo quem elegia... também foi isso que me ensinaram os meus pais... e o meu pároco. Será que eles me mentiram? Ou - ainda mais estranho - será que o Espírito Santo teve medo?
(Já agora, e sobre o pretenso medo dos cardeias, recordo o que se escreveu aqui há dois dias atrás)

Ratz... quê? Bento XVI!

Joseph Ratzinger era dos cardeais mais conhecidos. (...) Não foi poupado a apreciações críticas que, unilateralmente mediatizadas, tendiam a definir-lhe uma imagem. A sua eleição põe à Igreja e ao mundo um dilema: vamos classificar um pontificado, apenas iniciado, a partir de uma imagem mediatizada, não completa e nem sempre exacta, ou vamos acolher a mudança, no início de um pontificado, que só o Espírito de Deus desenvolverá? Essa mudança fizemo-la comovidamente, nós os cardeais eleitores.

(D. José Policarpo, Bento XVI, a mensagem de um nome, Roma, Abril de 2005)

23.4.05

In The Womb

Fantásticas imagens produzidas pelo National Geographic Channel mostram o desenvolvimento de uma criança dentro do ventre materno (em vídeo ou em fotografias).

Para não comentar entrevistas eclesiais ao Expresso

Nas Catacumbas não se ataca ninguém, muito menos um Sacerdote. É um exemplo de S. Francisco de Assis: diz-se que, em certa ocasião, comentou que se visse lado a lado um Anjo e um Sacerdote cumprimentaria primeiro o Sacerdote, e só depois o Anjo. O seu interlocutor perguntou-lhe porquê, ao que o santo fundador dos franciscanos respondeu:
- O Anjo é um enviado de Cristo; o Sacerdote é outro Cristo!
Por isso, limito-me a sugerir que quem quiser saber o que pensam os bispos portugueses acerca da eleição de Bento XVI, em vez de ler o Expresso, leia isto, isto ou isto. Reacções do presidente da Conferência Episcopal e de seis bispos portugueses foram reunidas aqui e, quem quiser participar nas cerimónias de Acção de Graças pela eleição do novo Papa pode saber mais pormenores aqui.

Cristãos nas Catacumbas (III)

Até agora, os exemplos de perseguição religiosa aqui referidos diziam respeito a países onde tal perseguição não seria de espantar, dado o carácter autoritário dos seus governos (China, Vietname, Arábia Saudita...).
Mais graves são, no entanto, notícias como esta, surgida há pouco menos de um mês, na CNN:
In February, a judge recommended that a Roman Catholic pharmacist in Wisconsin be reprimanded and required to attend ethics classes after the pharmacist blocked a woman's attempt to fill a prescription for birth control pills in 2002.
As limitações à liberdade de consciência dos católicos estão em marcha... Eu não penso que nos estejamos a aproximar de novos tempos de martírio mas, com este exemplo, começo a questionar-me se o século XIX não será o século dos confessores*?
* Confessores é o termo eclesiástico para os que, sem chegarem ao extremo do martírio, foram perseguidos pela fé.

22.4.05

Algo que me intrigava há algum tempo...

... mas de que nunca me lembrei à frente do computador: onde é que estava a esquerda (que tanto criticou o Pe. Lereno) para defender a separação da Igreja e do Estado quando um outro padre se apresentava como candidato (primeiro pela UDP e, depois, pela CDU!!!) à Assembleia Regional da Madeira?
É uma visão curiosa, muito coincidente com a visão da Igreja pelo PC Chinês: pode ser-se católico desde que se pertença à Igreja Partriótica! Aí, não só a campanha política não é proibida nas igrejas, mas é fomentada e mesmo obrigatória: se não citar S. Marx e S. Mao, o pobre pastor poderá conhecer os célebres campos de reeducação.

O Papa e o Zeitgeist

Luciano Amaral, no Acidental, sobre o aggiornamento que os media disseram ser exigido a Bento XVI:
Exactamente o que é que Bento XVI terá de fazer para se adequar ao “seu tempo”? Vestir uma t-shirt da Abraço e andar por aí a distribuir preservativos? Andar de hospital em hospital a desligar ventiladoras? Mandar piropos a garotas que queiram ser ordenadas? Exactamente, o quê? A Igreja Católica rege-se por princípios, doutrinas, dogmas e regras que, muito manifestamente, não são as da recém-extinta UDP, nem são as das luminárias que todos os dias debitam notícias nos jornais...

21.4.05

Algo mais irreverente!

Mulheres católicas oprimidas manifestam a sua oposição à eleição do Cardeal Darth Vader. A não perder, n'O Insurgente.

Conhecer Bento XVI

Para quem não pôde ver a entrevista da noite de ontem sugiro:
- versão light: entrevista ao então cardeal Ratzinger em Novembro de 2004, aqui.
- versão medium: O Sal da Terra, entrevista com Peter Seewald que pode ser encontrada em português na Multinova, em Inglês aqui e em castelhano aqui.
Seewald, que entretanto se converteu, realizou nova entrevista, que sugiro como...
- versão heavy: God and the World. Segundo creio, não está em português (pode ser encontrado em inglês aqui).

Deus é mais corajoso que os homens!

Estas as palavras que me occoreram quando o cardeal Somalo exclamou: “Ratzinger!”

Na noite de ontem, a RTP mostrou uma breve entrevista ao então Cardeal Ratzinger. Brilhante: aquele homem não se repete, não hesita, reformula as questões mostrando porque estão mal colocadas, e responde-lhes com a simplicidade e quem meditou longamente o vastíssimo leque dos problemas da humanidade. E a simplicidade: um optimismo sobrenatural, uma alegria, uma compreensão dos problemas dos homens, uma consciência claríssima das dificuldades de uma Igreja constituída por pecadores! O contrário do Inquisidor autista e de perspectivas limitadas em que tantas vezes nos quiseram fazer acreditar.

Eu já tinha lido O Sal da Terra! Não duvidava da santidade de vida do Cardeal Ratzinger. No entanto, humano e limitado como sou, envergonhado e temente do confronto, cheio de respeitos humanos, achava que não deveria ser o Papa… Zombava dos jornais que o apresentavam como principal papabile! Mas vieram as suas homilias no período de Sede Vacante; e a ternura – não apenas o respeito, mas a ternura – com que recebeu os que serviam nas cerimónias desses dias; a cumplicidade com a multidão que gritava Santo Subito! Que o escolham, pensei sem esperança!

E depois, Somalo a dizer: “Ratzinger!” Não queria acreditar! Nunca pensei que os Cardeais tivessem coragem para eleger o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé para suceder a João Paulo II. Só me pôde ocorrer, então, esse pensamento: Deus é mais corajoso que os homens! Os cardeais, como se ouvissem João Paulo II, não tiveram medo! Não tiveram medo de arriscar contra o politicamente correcto, que exigia um Papa moderado. Obviamente que não esperava a eleição do Cardeal Martini, mas de algum outro que, sendo sólido na doutrina, estivesse menos marcado por uma opinião publicada menos negativa.

Mas os cardeais conhecem Ratzinger melhor do que eu! Conhecem a sua simplicidade: sabem – como disse D. José Policarpo – que “ele não é apenas apreciado, mas estimado!” Sabem que não precisará de desvirtuar a fé para conquistar os corações dos Homens! (Afinal, também aquele que o nomeou Prefeito não necessitou de o fazer) Os cardeais sabem que é uma luz num mundo cheio de sombras. Sabem que ele só é um conservador para os que, ontem em Portugal e hoje em Espanha, só sabem ver progresso no desbragamento da vida social!

19.4.05

Oremus Pro Beatissimo Papa Nostro Benedicto XVI

Deus é mais corajoso que os homens!

18.4.05

Arte e Liberalismo

Dois textos interessantes, de Pedro Picoito, na Mão Invisível:
- Arte e liberalismo
- Arte e liberalismo II

A Ditadura do Relativismo

Quanti venti di dottrina abbiamo conosciuto in questi ultimi decenni, quante correnti ideologiche, quante mode del pensiero... La piccola barca del pensiero di molti cristiani è stata non di rado agitata da queste onde - gettata da un estremo all’altro: dal marxismo al liberalismo, fino al libertinismo; dal collettivismo all’individualismo radicale; dall’ateismo ad un vago misticismo religioso; dall’agnosticismo al sincretismo e così via. Ogni giorno nascono nuove sette e si realizza quanto dice San Paolo sull’inganno degli uomini, sull’astuzia che tende a trarre nell’errore (cf Ef 4, 14). Avere una fede chiara, secondo il Credo della Chiesa, viene spesso etichettato come fondamentalismo. Mentre il relativismo, cioè il lasciarsi portare “qua e là da qualsiasi vento di dottrina”, appare come l’unico atteggiamento all’altezza dei tempi odierni. Si va costituendo una dittatura del relativismo che non riconosce nulla come definitivo e che lascia come ultima misura solo il proprio io e le sue voglie.

Noi, invece, abbiamo un’altra misura: il Figlio di Dio, il vero uomo. É lui la misura del vero umanesimo. “Adulta” non è una fede che segue le onde della moda e l’ultima novità; adulta e matura è una fede profondamente radicata nell’amicizia con Cristo. É quest’amicizia che ci apre a tutto ciò che è buono e ci dona il criterio per discernere tra vero e falso, tra inganno e verità. San Paolo ci offre a questo proposito – in contrasto con le continue peripezie di coloro che sono come fanciulli sballottati dalle onde – una bella parola: fare la verità nella carità, come formula fondamentale dell’esistenza cristiana. In Cristo, coincidono verità e carità. Nella misura in cui ci avviciniamo a Cristo, anche nella nostra vita, verità e carità si fondono. La carità senza verità sarebbe cieca; la verità senza carità sarebbe come “un cembalo che tintinna” (1 Cor 13, 1).

[...] Allora andiamo e preghiamo il Signore, perché ci aiuti a portare frutto, un frutto che rimane. Solo così la terra viene cambiata da valle di lacrime in giardino di Dio.

(Joseph Cardinal Ratzinger, Homilia na Missa Pro Eligendo Romano Pontifice, 18.04.2005)


Vale a pena ler...

... a interessantíssima entrevista que a figura mais solicitada do planeta deu ao jornal ABC: trata-se de Joaquin Navarro-Vals, porta voz da Santa Sé, e foi publicada na edição de ontem.
La actualización histórica que Juan Pablo II ha introducido en una institución de raíz divina ha sido impresionante. Inevitablemente, en el ministerio papal se habían ido incrustando una serie de resabios históricos que obstaculizaban su anhelo de aproximación a lo humano concreto. Este Papa se ha dejado fotografiar en la montaña con pantalones de pana (pero sin despojarse jamás del alzacuello), ha recibido en audiencia a ex prostitutas y les ha besado las manos. Y todo ello lo ha hecho, además, de modo absolutamente natural, mediante una «política de hechos consumados» que, paradójicamente, no ha supuesto una ruptura con la dignidad de su ministerio, sino, por el contrario, una purificación del mismo. Por lo común, los Papas solían expedir documentos para advertir de los cambios que debían introducirse en el protocolo: «De ahora en adelante...». Él, en cambio, no ha escrito ni un solo papel de actualización; se ha limitado a actuar. Continuamente, las veinticuatro horas del día estaba renovando los hábitos papales. [...] Y todo ello de modo no traumático, ininterrumpido, durante veintiséis años.

Agora, que começa o Conclave:

Peço [...] àquele que for eleito que não se subtraia ao cargo, a que é chamado, pelo temor do seu peso, mas que se submeta, humildemente, ao desígnio da vontade divina. Com efeito, Deus, quando lhe impõe o ónus, também o ampara com a sua mão, para que não se sinta impotente para o carregar; quando Lhe confere o pesado encargo, dá-lhe também o auxílio para o cumprir, e quando lhe confere a dignidade, concede-lhe também a força, para que não sucumba sob o peso do cargo.
(João Paulo II, Universi Dominici Gregis, n.º 86)

17.4.05

Ironia

O movimento Nós Somos Igreja ainda não se apercebeu da profunda dívida que tem para com o pontificado de João Paulo II. Não haja dúvidas de que um pontificado tão longo foi decisivo para o crescimento e consolidação do dito movimento.
Esclareço: a média de duração dos pontificados do século XX foi 12,5 anos. Isto significa que, se o pontificado de João Paulo II não fosse excepcionalmente longo, teríamos tido, desde 78, dois Conclaves: c. 1980 e c. 2002. Ora, assim sendo, não se poderia dizer que esta ou aquela posição eram as posições do polaco conservador. Teriam sido três os Papas a reafirmar a doutrina do celibato dos sacerdotes, a pastoral dos divorciados que voltaram a casar, a moral sexual, etc.
Concluindo: os simpatizantes do movimento já teriam descoberto que têm duas opções: ou são fiéis ao Magistério ou é melhor procurarem a comunidade evangélica mais próxima!

Roma (II)

Já se entende o porquê do post anterior… Iria falar, como é inevitável, do Conclave.
Não porque haja muito para dizer. O Patriarca de Lisboa, no meio das surpresas que, ao longo destes dias, o foram enchendo de um sereno assombro, escreveu:
Aqui estamos nós, 115 homens que Deus há muito chamou e consagrou para o serviço do seu Povo, a preparar na simplicidade da fé, um acto profundamente humano: votar para escolher aquele que, certamente, Deus já escolheu. Mas não estamos à espera que Deus nos mande um anjo a anunciar a sua escolha. Ele quer que a sua escolha se exprima na nossa. É tudo tão simples e tão sereno.
Dito isto, pouco mais há a acrescentar: se o Papa é branco ou negro, progressista ou conservador, de definição ou de transição… Tudo isso parece irrelevante perante a simplicidade do Conclave. Há dois dias, alguns amigos discutiam cinco nomes que tinham vindo no jornal. Perguntei-lhes que outros nomes de cardeais conheciam. Obviamente, mais nenhum. De facto, a generalidade dos portugueses conhecia até ao dia 2 de Abril o nome de dois cardeais: Policarpo e Saraiva Martins. Se se pensar em mais algum, talvez apareçam os defuntos Cerejeira e Ribeiro. Os minimamente informados conheciam, obviamente, Ratzinger e Sodano. Os bem informados já sabiam quem era Arinze, Lustiger, Shönbron, Hummes, Tettamanzi ou Ruini. Se descontarmos estes 10 cardeais sobram 105 elegíveis (isto se descartarmos a hipótese remota de o eleito não ser cardeal). É certo que, de entre estes 105, vários podem excluir-se à partida. No entanto, não conhecemos suficientemente bem o Colégio Cardinalício para, com um mínimo de seriedade, aventar alguma hipótese que não seja um palpite (mistura de desejo e possibilidade que só se concretiza por sorte).
Assim sendo, agora que começa o Conclave, resta-me rezar:
- Para que os que estão lá dentro saibam reger-se pela lógica enunciada pelo Patriarca de Lisboa:
Temos apenas de fazer o que nos é pedido, na simplicidade da nossa consciência, acreditando profundamente que é o Senhor quem conduz o seu Povo.
(D. José Policarpo, Experimentar e Sentir a Igreja)
- Para que o eleito
não se subtraia ao cargo, a que é chamado, pelo temor do seu peso, mas que se submeta, humildemente, ao desígnio da vontade divina.
(João Paulo II, Universi Dominici Gregis, n.º 86)

Raios (para não escrever outras coisas...)

Eu, que achava que estar entre os paroquianos ultramontanos da Paróquia do Minho era um exagero (considero-me mais romano ou, simplesmente, católico) vou-me dando conta de que neste blog se tem andado muito à volta da religião...
Um destes dias tenho que escrever aqui uns palavrões! Caso contrário, como dirá o Sebastião, com tamanha elevação espiritual entramos em órbita!

16.4.05

Folhas de Figueira

Roger Scruton escreve um interessantíssimo artigo na Spectator sobre o valor do pudor e da modéstia:
Sexual shame differs from moral shame in two ways. First, it is not a confession of wrongdoing: on the contrary, it testifies to the reluctance to do or suffer wrong. Secondly, it is not troubled, as moral shame is troubled, by the thought that you are being judged as a self, a free being, a moral subject. On the contrary, it arises from the thought that you are being judged as a body, a mechanism, an object. […]If we lose the capacity for shame we do not regain the innocence of the animals; we become shameless, and that means that we are no longer protected from the sexual predator.

Europa, Cristianismo e Juventude

Algumas vezes passa-se a mensagem de que o pouco crescimento do número de Católicos na Europa é sinal claro de que o Cristianismo tem os dias contados e entrou na recta final. De facto, a Europa foi, no último quarto de século, a região onde menos cresceu o Cristianismo (+5%). Mas cresceu muito mais no resto do mundo: África (+151%), Asia (+74%), Oceanía (+49%) e América (+45%).
Mas a Europa é uma civilização decadente, relativista, sem horizontes de esperança e de futuro. sem outros ideais que não sejam o conforto, o bem-estar egoísta e onde o decréscimo da população e o seu envelhecimento são praticamente irreversíveis. É uma região que, esgotada, declaradamente espera que a imigração venha salvá-la e revitalizar os valores de sempre. Por muito que doa aos ideólogos mercadores de aparências, o Cristianismo é juventude e sempre lhe coube ser fermento. É assim desde há 2000 anos e assim continuará a ser até ao fim dos tempos.

15.4.05

Numa disciplina

Numa disciplina constante procuro a lei da liberdade
medindo o equilíbrio dos meus passos.

Mas as coisas têm máscaras e véus com que me enganam,
e, quando eu um momento espantada me esqueço, a força
perversa das coisas ata-me os braços e atira-me,
prisioneira de ninguém mas só de laços, para o vazio
horror das voltas do caminho.

(Sophia)

Roma

Em vez das especulações habituais, duas leituras profundas sobre o que se tem passado nos últimos dias em Roma:
- D. José Policarpo: Experimentar e Sentir a Igreja;
- Richard John Neuhaus, director da Revista First Things , com o seu Rome Diary.

11.4.05

Onde é que isto vai parar (IV)

Mas o caso Shiavo talvez seja uma experiência de outro género [...]: Leviatão treina-nos para grandes massacres futuros. Hanna Arendt explicou que o Holocausto foi possível porque o colonialismo, o antisemitismo, a Primeira Guerra Mundial habituaram os nossos avós ao morticínio. Por outros métodos, estamos a ser educados para perdermos a sensibilidade moral.

(Luís Salgado de Matos, "Cobaias Humanas", in Público, 11.IV.2005)

Drama:

a Spectator passou a ser paga... e o meu orçamento não aguenta!

10.4.05

"New blogs on the block"

A expressão é da mui amável Miss Pearls, que nos citou no Xanelcinco, um dos sítios mais charmosos da blogosfera. Muito obrigado!

8.4.05

Non abbiate paura!

Non abbiate paura! Aprite, anzi, spalancate le porte a Cristo!Alla sua salvatrice potestà aprite i confini degli Stati, i sistemi economici come quelli politici, i vasti campi di cultura, di civiltà, di sviluppo. Non abbiate paura! Cristo sa “cosa è dentro l’uomo”. Solo lui lo sa!

(João Paulo II, Homilia no Início do seu Pontificado, 22.X.2004)

7.4.05

O Papa, a sida e a liberdade

Ao longo dos últimos dias, a imprensa mundial publicou já mais de 50.000 artigos de opinião sobre a vida e morte do Papa João Paulo II. A esmagadora maioria dos artigos são laudatórios da vida e obra do Papa. Calculo que muitos omitem, por respeito próprio das circunstâncias, as discordâncias.

Do que se foi publicando em dois ou três diários portugueses, creio que o balanço será similar. Para além das referências à firmeza da Fé do Papa, a generalidade dos artigos destacou dois aspectos: a defesa da paz e a luta pela liberdade. Uma minoria atacou o Papa como autoritário na Igreja ou refere, como aspecto negativo, a responsabilidade do Papa na propagação da sida.

Este último facto é estranho. Mas ele vinha a desenhar-se há já alguns anos: perante a crescente popularidade de João Paulo II era urgente encontrar-lhe um pecado original. Coisa nada fácil, dada a solidez das posições do Papa e a importância que a divergência de opiniões tem na estruturação de uma sociedade plural. Conseguiu-se, no entanto, uma lógica simplista para garantir a desumanidade de João Paulo II. A falácia é a seguinte: 1) o Papa condena o uso do preservativo; o preservativo é o melhor meio de combate à sida; conclusão: o Papa é contra a prevenção da sida! Nas radicalizações do discurso chegou mesmo a afirmar-se que o Papa era o responsável pela pandemia da sida.

O aspecto mais bizarro desta lógica é o seguinte: as pessoas que não se importaram com a doutrina da Igreja na altura de uma relação extra-matrimonial (seja ela pré-marital, adúltera ou outra) deixam de usar preservativo porque o Papa manda?!

Numa sociedade erotizada como a contemporânea o argumento parece ter valor: a exaltação do sexo supôs que o Homem não é capaz de contrariar os seus apetites sexuais! Logo, João Paulo II poderia ser condenado por propor uma doutrina inconciliável com a condição humana! Mas, para que este argumento seja válido, é exigida uma visão laxista sobre a sexualidade. Quando os media especulam sobre a vida sexual das figuras públicas; quando o mercado da pornografia está num crescimento extraordinário; quando os publicitários usam o sexo para vender tudo, desde os automóveis às cervejas; então é provável que se considere desumana a doutrina da Igreja sobre a sexualidade.

Eis aqui, no entanto, o aspecto em que João Paulo II foi, de facto, um campeão da liberdade: mais que na luta contra a tirania política, procurou afirmar que só a cultura poderia dar a verdadeira liberdade ao Homem, uma vez que só pela cultura o homem se distingue dos animais. A doutrina da Igreja sobre a sexualidade (em particular a teologia do corpo de João Paulo II) é uma afirmação de liberdade, uma afirmação de humanidade, uma rebeldia contra a espontaneidade dos instintos própria da vida selvagem! Afirmar que o Homem não é livre em matéria sexual é, de facto, obrigá-lo ao preservativo. Mas a doutrina do Papa (e o seu exemplo, e o de tantos milhões de católicos que são fiéis à doutrina da Igreja) sempre afirmou que o homem não estava condenado ao deboche e à promiscuidade. Terão aqueles que cederam à infidelidade matrimonial, levando silenciosamente a sida para o interior das suas casa, deixado de usar preservativo por respeito à autoridade papal? E os homossexuais? E os jovens que, instigados por uma imprensa e por uma televisão insinuante ou agressiva, viveram de modo promíscuo a sexualidade?

A defesa da liberdade e a moral sexual da Igreja fundamentam-se numa mesma antropolgia. Pode discordar-se dela; pode criticar-se. Não pode, no entanto, dizer-se que ela não ficou clara, em particular nas encíclicas Fides et Ratio, Evangelium Vitae e Veritatis Splendor. (E é obrigatório reconhecer que se os princípios nelas inscritos fossem mais difundidos a pandemia da Sida não teria atingido proporções tão elevadas, pelo menos nos países de tradição católica.)

Supor que o Homem não é capaz de resistir aos seus instintos sexuais equivale a colocá-lo numa categoria infra-huamana: e como pode uma sociedade democrática sobreviver se, em vez de cidadãos, é constituída por bichos?

5.4.05

Sem ilusões

Lá para o princípio de Maio a papamania terá passado. Ao longo das próximas semanas o ritmo dos directo do Vaticano irá diminuir. Terá um pico nos dias de abertura do conclave, no dia da eleição do novo Papa e no dia da sua Missa inaugural. Depois seguir-se-á um período de estado de graça, como sucede com os governos: nas páginas dos jornais haverá biografias apressadas e previsões dos vaticanistas, juntamente com artigos intitulados Os dez desafios do Papa X ou A Igreja que espera o Papa. Nessa altura surgem fotografias da habituação do novo Papa ao cargo, não já nas páginas principais mas no potfolios dos suplementos. Talvez haja alguma curiosidade sobre se o novo Papa irá ou não concretizar a viagem à Alemanha agendada por João Paulo II para Agosto. Quando ocorrer a viagem, já terão acabado todas as ilusões.

Quem acreditou que o novo Papa irá, finalmente, autorizar a ordenação das mulheres, o fim do celibato dos padres ou o relaxamento da moral sexual, começará a falar em oportunidade perdida no conclave. Regressarão as críticas à Igreja como causadora de todos os males do mundo, desde a sida (porque o Papa condena o preservativo) à pobreza (por causa das riquezas do Vaticano). Começará o revisionismo do pontificado de João Paulo II e sobre ele, como sobre Pio XII, dir-se-ão as coisas mais absolutamente mirabolantes. Os media, que agora seguem como abutres a agonia, o funeral e a eleição, irão atrás de um qualquer Cornwel que, tendo passado um dia na biblioteca do Vaticano, aparecerá como investigador exaustivo do pontífice polaco. Qualquer dessas biografias delirantes – cheia de fotografias e de revelações polémicas – venderá mais que o extraordinário Testemunho de Esperança de George Weigel!

Por outro lado, os católicos que acreditaram que as manifestações unânimes em torno da figura de João Paulo II eram sinal da primavera da Igreja de que o Papa tanto falava, já se terão dado conta que o referendo sobre o aborto está na ordem do dia em Portugal, a laicização oficial em Espanha está em marcha, etc... Também aí se desfarão ilusões. Mas será nessa altura – quando se tiverem desfeito as ilusões que a emoção criou – que começaremos a dar-nos conta de que João Paulo II é, realmente, João Paulo Magno. Será ocasião para ver que a primavera da Igreja não é a restauração dos estados teocráticos ou o fim dos combates pela vida, mas a tomada de consciência da doutrina do Vaticano II sobre a chamada universal à santidade e o compromisso dos cristãos com a continuação da obra da criação, através da santificação dos deveres da vida quotidiana. Será a altura para perceber que o que está em jogo não é saber se os leigos podem ser ou não uma espécie de padres disfarçados, mas formar os leigos para que sejam, também eles, testemunhos da esperança cristã, sal a terra, luz do mundo.

Isso é mais difícil que um novo concílio: os pseudo-conciliaristas debatem teorias sobre o que Cristo disse. Os testemunhos de esperança comprometem-se, integralmente, com o que Cristo disse. E entre o que Ele disse está o incontornável ninguém pode servir a dois senhores.

4.4.05

Os jornalistas vistos por si próprios

A propósito das especulações em torno do local da sepultura de João Paulo II e sobre o futuro Papa.
Isto não são mais que especulações de jornalistas. (Aura Miguel, SIC, 3.IV.2005)
Estamos a especular. (Alberta Marques Fernandes, RTP, 3.IV.2005)
A imprensa tem que encher páginas de jornais com este assunto. (Teresa do Canto Noronha, RTP, 4.IV.2005)
Isto foi o que eles disseram... Se nós disséssemos que eles estavam a especular viriam com a cantilena do rigor, das fontes bem colocadas, etc, etc, etc...

João Paulo II Está-Te Grato Todo O Mundo

O agravamento do estado de saúde e a morte do Papa João Paulo II, trouxe à luz do dia esse imenso e multicolor Corpo de Elite, auxiliar da Guarda Suissa, que, convocado pela misteriosa trombeta do amor e da gratidão, envolveu o Papa, trazendo nas mãos as armas da oração, do carinho, da mortificação, das lágrimas, da saudade que já se começava a sentir…
Muitos referirão as viagens, os documentos, os livros, as audiências, multitudinárias ou não, as numerosas personalidades presentes no seu funeral, a influência marcante que teve em aconte-cimentos da transição de século…
Prefiro, por esse motivo, referir um aspecto menos retumbante mas não de menor importância: a vida de oração do Papa. Contava-me um amigo que depois de ter tomado conhecimento da sua nomeação como bispo-auxiliar passou por um convento e pediu licença às religiosas para ir rezar à capela. Passaram-se as horas, caía a noite, e, preocupadas, com receio que algo tivesse acon-tecido ao jovem sacerdote, as religiosas entraram na capela. Karol Woityla estava mergulhado em oração e pediu-lhes: “Sabem irmãs! Eu só tenho comboio à meia-noite e se não causasse incómodo, tenho tantas coisas a conversar com Nosso Senhor, ficaria aqui até à hora de tomar o comboio.”. Ao longo dos anos quantas noites não foi encontrado na capela do lugar onde pernoitava, muitas vezes prostrado no chão à tradicional maneira polaca, pedindo pela Igreja, pelos problemas prementes, pela humanidade inteira… A oração, o saber-se constantemente na presença de seu Pai Deus e, confiadamente nas Suas mãos, explica a sua força interior, a energia de quem se sente constantemente interpelado pela pergunta de Cristo: “Pedro, amas-Me mais do que estes?” e o desejo ardente de responder: “Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo.” (Cfr. S. João, 21, 15-17).
Algum dia saberemos quanto dos êxitos políticos, sociais, humanos… da recente e futura História da Humanidade, e da biografia de cada um de nós, são fruto da oração, da mortificação e da catequese de João Paulo II.
O Papa que agora está sobre terra ensinou-nos a viver e a morrer. Rezemos por sua alma. É um dever de gratidão e de justiça

2.4.05

"É um mundo o que ele fez"

Os Netos do Papa

Eu procurei-vos. Agora vós viestes ter comigo. E eu agradeço-vos.

(Palavras pronunciadas por João Paulo II, na tarde de 1.IV.2005)

A primeira vez em que se falou dos “netos do Papa” foi por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude de Paris, em 1997. Na altura, a expressão desagradou-me: pensei que ela apenas destacava a envelhecimento de João Paulo II, que se apresentou nessa ocasião bastante desgastado: em contraste com as imagens de 1978, aparecia então com o cabelo todo branco, a bengala, a corcunda mais acentuada e a tremura constante da mão esquerda, que tanto se veio a acentuar depois.
Nos anos seguintes, a expressão tornou-se cada vez mais frequente, em particular por altura do Jubileu dos Jovens e das Jornadas Mundiais da Juventude de Toronto. Curiosamente, o que antes revelava alguma ironia foi-se tornando cada vez mais literal: os netos do Papa não o eram por seguir um velho, mas por seguir um avô.
O Papa conciliava dois aspectos atractivos para os netos: por um lado falava com uma segurança que parecia vir de outro tempo; por outro lado, no seu discurso mostrava estar perfeitamente lúcido quanto aos problemas e necessidades do tempo de hoje.
Falava com uma confiança naqueles que o escutavam que parecia inabalável: quem ouviu João Paulo II nos encontros multitudinários de Santiago de Compostela, de Czestochowa ou de Paris não se encontrava num show alienante, mas sentia-se directamente interpelado. Só assim se justifica que, na sequência desses encontros, tantas pessoas tenham tomado decisões firmes que levaram a mudanças profundas nas suas vidas; decisões que não duraram quinze dias mas que se prolongaram por anos!
Alguns (poucos) zombam da morte do avô.
Muitos outros não escondem a sua admiração pelo avô Wojtyla, mesmo quando se demarcam das suas posições, que consideram compreensíveis num avô.
Mas os netos do Papa (se formos dignos desse título) deveremos mostrar-nos merecedores da herança de compromisso que João Paulo II nos lega: Não tenhais medo: Cristo sabe o que há dentro do Homem. Só ele o sabe!

Un immense merci!

Chers amis,
Jeunes du monde entier,

En votre nom à tous, je dis au pape Jean-Paul II un immense merci.
Merci, car il vous a fait entendre l'appel du Christ.
Et, comme les premiers disciples, vous êtes restés auprès du Seigneur.
Quelle joie!

Merci, car il vous a fait entendre l'appel du Christ.
(...) et vous avez pris votre place dans l'Eglise du Christ.
Vous comprenez que tout être humain, même le plus dissemblable, est un frère, votre prochain.
Quelle joie!

Merci, car il vous montre le chemin de la prière,
il vous invite à savourer la parole de Dieu.
Et vous reconnaissez la vraie grandeur de votre vie, vous recevez le courage de l'avenir.
Quelle espérance!

Merci, car il est pour vous les jeunes, comme pour tous, témoin du Christ qui donne sa vie pour ceux qu'il aime.
Et vous découvrez que vous êtes aimés de Dieu.
Quelle joie!

Merci, au pape Jean-Paul II car il nous a confirmés dans la foi.
Cette nuit, la Lumière de la Vie a illuminé nos coeurs.
Quelle espérance!
Quelle paix!
Quelle joie!

(Jean Marie Cardinal Lustiger, Acolhimento na Missa de encerramento das Jornadas Mundiais da Juventude, Paris, 24 de Agosto de 1997)

1.4.05

Oremus Pro Beatissimo Papa Nostro Ioanne Paulo II

Abutres!

Rainier do Mónaco está doente. Um comunicado do Principado anuncia que o Príncipe está em estado grave. As televisões anunciam: Príncipe do Mónaco com problemas respiratórios e renais.
João Paulo II está doente. Um comunicado do Vaticano anuncia que o Pontífice está em estado grave. As televisões anunciam: Vaticano nega que João Paulo II esteja em coma!
As televisões parecem abutres: voam pelo Vaticano; pressionam os responsáveis pela informação do Papa; querem imagens! Imagens do Papa agonizante, imagens de Cardeais a comentar, a desmentir a informação que (vá-se lá saber onde?) inventaram. Sem imagens, como poderão impedir que os espectadores que criaram façam zapping para algum dos Big Brothers da concorrência?