31.1.07
30.1.07
Na estrada…
A campanha para o referendo ao aborto começou oficialmente. No Domingo, milhares de pessoas desfilaram em Lisboa, manifestando o seu apoio ao Não. Como sempre nestes casos, os números variaram: a organização chegou a falar em 20.000 (segundo fontes da polícia) e os media ficaram-se pelos 10.000 (segundo fontes da polícia). Esta variação não é novidade: é assim nas manifestações da CGTP ou na partida do Dakar.
O que é novidade nesta campanha é a evidência do carácter popular das iniciativas do movimento pró-vida: em cerca de dois meses, os apoiantes do não recolheram quase 200.000 (duzentas mil) assinaturas e formaram 14 (catorze) movimentos cívicos, espalhados um pouco por todo o país.
Sem dúvida que o papel da Igreja Católica foi, aqui, definitivo: no entanto, a mobilização em torno do referendo ao aborto transcendeu, em larga medida, a actuação que a Igreja, habitualmente, consegue ter. Não esqueçamos que esta é a mesma Igreja que fracassou no projecto da TVI, a que fracassa há trinta anos na luta pela liberdade de educação ou a que fracassa constantemente na passagem da sua mensagem perante um mundo crescentemente secularizado. O movimento pró-vida envolveu os católicos (mesmo os que habitualmente ligam pouco à Igreja) com agnósticos e ateus que souberam valorizar mais a vida que as divisões que os separam.
É por isso que é de justiça afirmar que o movimento pró-vida é a mais impressionante manifestação da sociedade civil existente em Portugal. Nenhuma outra causa mobilizou tantos portugueses de forma tão duradoura.
Sem dúvida que outras causas mobilizaram mais pessoas e mereceram maior consenso: a mobilização em apoio a Timor é o exemplo mais evidente. Mas essa mobilização durou uma semana ou quinze dias. Outras causas mobilizam pessoas desde há muito tempo, mas o envolvimento da população manifesta-se, acima de tudo, na angariação de fundos para as causa que promovem, como o “Pirilampo Magico” ou a "Liga Portuguesa contra o Cancro". Há, ainda, as iniciativas que gozam de grande favor e impacto mediático, mas muito limitadas no número de pessoas que mobilizam, como é o caso de organizações ambientalistas como a Quercus ou dos movimentos LGBT.
No entanto, na sequência do referendo de 1998, foram muitas as pessoas que se comprometeram com as acções de promoção de uma cultura favorável à vida e à maternidade: algumas (uma minoria, sem dúvida) abandonaram os seus empregos para se dedicarem profissionalmente à promoção de centros de apoio à maternidade em risco; a maior parte procurou tornar compatível com os seus afazeres familiares, profissionais e sociais a participação voluntária (ora mais esporádica, ora mais regular) no apoio a esses centros. Alguns angariaram fundos; outros contribuíram com donativos; houve quem disponibilizasse o seu telefone doméstico para receber chamadas de “linhas SOS grávida” e quem se dispusesse a atender telefonemas a qualquer hora do dia, partindo imediatamente para onde a sua presença fosse exigida.
Os seus nomes? Andam perdidos nas listas dos movimentos cívicos… Andam agora - ao fim de um dia de trabalho – pelas Juntas de Freguesia e pelos fóruns locais, nas paróquias, nas escolas e na blogosfera, no jornal nacional ou no pasquim local a fazer uma campanha em que os rivais são os profissionais da política e dos media. Movem-se muito longe dos calendários político-partidários, conscientes de que a sua acção salva as vidas! Conhecem, de perto, as histórias das mulheres que foram empurradas para o aborto: as que encontraram a tempo, e aquelas a quem enxugaram as lágrimas quando era tarde demais! E depois de 11 de Fevereiro, independentemente do resultado e das políticas, continuarão a sua acção, de modo discreto, sem as condecorações que são devidas aos verdadeiros heróis!
29.1.07
Trauma Pós-Aborto
Numa sessão de esclarecimento do Partido Socialista em Gaia no passado dia 27 de Janeiro, a Srª Doutora Maria José Pinto da Costa negou a existência de qualquer trauma pós-aborto. Segundo esta professora, a tristeza que uma mulher sente após um aborto é semelhante à que sente quando lhe morre... "o gato"!
Um gato, minha senhora? Um Gato? Consegue comparar um filho a um Gato?
Acho que, se tivesse dúvidas, tinham acabado ali... estes são os argumentos do SIM... Nem merecem qualquer contradição..."
20.1.07
Milionários III (rectificação)
O Público rectificou hoje os números sobre as despesas das campanhas, reproduzidos num post anterior. Afinal, a camapanha do "sim" só é 3,3 vezes mais milionária que a do "não":
Partidos e movimentos pelo “sim”:
€ 1.900.00,00
Partidos e movimentos pelo “não”:
€ 561.735,00
€ 1.900.00,00
Partidos e movimentos pelo “não”:
€ 561.735,00
19.1.07
18.1.07
Milionários (II)
Para pôr tudo no devido lugar, eis os valores da "campanha milionária", de acordo com a CNE e o Público:
Partidos e movimentos pelo “sim”:
€ 3.167.004,00
Partidos e movimentos pelo “não”:
€ 561.735,00
Repito:
Partidos e movimentos pelo “sim”:
€ 3.167.004,00
Partidos e movimentos pelo “não”:
€ 561.735,00
Porque as campanhas do “sim” sabem bem que há mentiras que, muitas vezes repetidas, se transformam em verdades...
Portanto, mais uma vez:
Partidos e movimentos pelo “sim”:
€ 3.167.004,00
Partidos e movimentos pelo “não”:
€ 561.735,00
Milionários
O Bloco de Esquerda parece já não ter argumentos de fundo (se é que alguma vez os teve) para usar na campanha do referendo.
Por essa razão, vai à luta "acusando" a campanha do "Não" de ser suportada por milionários.
E eu só me pergunto... e depois? qual é o problema? as pessoas não podem fazer com o dinheiro aquilo que lhes apetecer?
Não sei quais foram os tais milionários nem as tão grandes quantias de dinheiro. Mas aqui lhes agradeço... pelo menos financiam uma campanha pela vida, da qual nenhuns dividendos virão a tirar.
Quando não os consegues bater, chama-os ricos...
Por essa razão, vai à luta "acusando" a campanha do "Não" de ser suportada por milionários.
E eu só me pergunto... e depois? qual é o problema? as pessoas não podem fazer com o dinheiro aquilo que lhes apetecer?
Não sei quais foram os tais milionários nem as tão grandes quantias de dinheiro. Mas aqui lhes agradeço... pelo menos financiam uma campanha pela vida, da qual nenhuns dividendos virão a tirar.
Quando não os consegues bater, chama-os ricos...
17.1.07
15.1.07
Duplipensar
Em Novembro, o Sindicato dos Jornalistas criticou o facto de a Direcção de Informação da Rádio Renascença ter assumido uma posição em defesa do Não no referendo ao aborto. De acordo com o Público, a TSF e o Correio da Manhã (entre outors media), o vice-presidente do conselho deontológico do sindicato terá afirmado que
é absurdo que um órgão de informação tome uma posição colectiva sobre uma
matéria deste teor.
Por mais que tenha procurado, ainda não tomei conhecimento de críticas à tomada de posição do Conselho Editorial do Le Monde Diplomatique pelo Sim... Mais ainda: nas páginas do Público, a referência ao facto não mereceu qualquer reparo. Bem pelo contrário: o diário promoveu a edição mais recente do Le Monde Diplomatique, destacando o caderno especial dedicado ao aborto, com indicação dos artigos mais destacados e respectivos autores.
11.1.07
O Crime Compensa
Chego a casa depois de um dia de trabalho e um carro está a bloquear o portão. Não dá para entrar. Por sorte tenho um lugar alguns metros mais à frente. E descanso. No entanto, nem todos os que querem entrar têm a mesma sorte: a alternativa é ir deixar o carro muito longe de casa. Tudo isto é um incómodo para quem quer entrar. Mas torna-se verdadeiramente problemático para quem quer sair: só quem tiver um catterpillar na garagem (hábito que me não parece nada frequente) consegue remover um monovolume da frente da sua porta. Só há, portanto, uma solução: chamar a polícia.
Foi o que fiz às 19h00. Quando perguntei se iria demorar muito, disseram-me que havia dois reboques a resolver duas ocorrências, pelo que não deveriam demorar muito. Eu é que deveria esperar, para apresentar a reclamação quando chegasse o reboque.
Como tinha alguns telefonemas para pôr em dia, lá me fui entretendo. Depois, sentei-me no carro, enquanto folheava o número mais recente da Atlântico, à luz ténue de um poste da rua. Entretanto passaram dois guardas de giro, a quem comuniquei o caso: nada podiam fazer, uma vez que eu já tinha chamado o reboque. Disse-lhes que o mais provável era que o dono chegasse antes do reboque, uma vez que eu já estava à espera há mais de meia hora. Nada podiam fazer, pois seriam os agentes do reboque a passar a multa.
Passada uma hora, decidi que a luz da rua era demasiado fraca para ler a Atlântico. Além disso, tinha que aquecer o jantar e arrumar papelada. Desisti de esperar pelo reboque.
Depois de jantar – já passava das 21h15 – espreitei pela janela para confirmar o habitual: o dono teria vindo e levado o carro. Na melhor das hipóteses, não teria deitado imediatamente para o lixo o papel que um dos locatários deixara preso ao limpa pára-brisas, a advertir que tinha estacionado num acesso a uma garagem. Para meu espanto, aí continuava o carro, e estava a chegar um automóvel da polícia. Os polícias ali ficaram, dentro do carro, a olhar, a olhar, a olhar… e preparavam-se para partir quando eu fiz sinal para esperarem. Lá desci à rua, para explicar que tinha sido eu a telefonar. Disseram-me que vinham confirmar se ainda era necessário chamar o reboque e, como eu respondi afirmativamente, pediram-me para esperar a fim de apresentar a reclamação ao rebocador. Eu já tinha esperado 1h30 por um reboque. Depois disso, já tinha passado outra hora: quanto tempo iria ainda esperar? O mais provável seria que o dono chegasse antes do reboque e levasse o carro como se nada tivesse acontecido.
A história normal terminaria aqui. A polícia iria embora, eu desistiria de esperar. O dono chegaria e levaria o carro. Se os rebocadores chegassem antes, comentariam entre si a falta de civismo do gajo que telefona para a polícia e não fica à espera. Se chegassem depois, comentariam a precipitação do gajo que telefona para a polícia por causa de um carro que parou à frente do portão durante um bocadito.
Desta vez, a história acabou de modo diferente. Esvaziei a autoridade do polícia: disse-lhe que não ia esperar mais; que a partir daí iria estacionar à frente dos portões, a contar com a morosidade da polícia; acrescentei à crítica da impunidade dos infractores floreados populistas contra os poderosos; dissertei sobre a injustiça que só se abate sobre os pequenos, já esmagados pelo impostos e pelos salários baixos… Enfim: fomentei a prepotência do agente da autoridade que assim se viu movido a proteger as viúvas, as donzelas em perigo e os órfãos que eu então personalizava.
O teatro resultou: o Sr. agente saiu da viatura, aprumou-se, sacou do bloco e da caneta. Autuou o veículo e pediu-me a identificação, a fim de registar a minha reclamação. Depois, com o ar profissional que aprendeu nas séries americanas, puxou do intercomunicador pela janela aberta e comunicou em código a matrícula da viatura a ser rebocada. Despediu-se e foi à sua vida.
Eu voltei para casa. Pouco antes das 22h00, ouvi o reboque a levar o carro: passadas três horas, a eficácia da polícia tinha resolvido o problema!
Confesso que adornei um pouco a história, que foi bastante mais insípida que o relato. No entanto, asseguro que ela permanece fiel ao ocorrido um destes dias. É algo que se repete frequentemente: desta vez teve um final um bocadito mais justo.