27.2.06
No aniversário d'O Insurgente, descobri uma notável confirmação da Road to Serfdom no Portal de la Educación Civico-Tributaria, criado na vizinha Espanha. É ao ver coisas como esta que considero O Insurgente um dos blogs mais pertinentes da blogosfera portuguesa.
Parabéns por este primeiro aniversário!
Bairrismo E Saudosismo Rural
Para ver paisagens belas
E brincar ao Carnaval,
Vá ao Carnaval de Nelas
O melhor de Portugal.
Anime-se! Dê cá a mão,
Que de bom encontra tudo,
E beba uns copos do Dão
Pr`a deixar de ser sisudo.
Vamos lá pr`a brincadeira
Que o tempo está a passar,
Com alegria e canseira
É dar ao pé sem parar.
Se a saúde for escorreita,
E se a morte não chegar,
A promessa fica feita:
“Haveremos” de voltar.
E brincar ao Carnaval,
Vá ao Carnaval de Nelas
O melhor de Portugal.
Anime-se! Dê cá a mão,
Que de bom encontra tudo,
E beba uns copos do Dão
Pr`a deixar de ser sisudo.
Vamos lá pr`a brincadeira
Que o tempo está a passar,
Com alegria e canseira
É dar ao pé sem parar.
Se a saúde for escorreita,
E se a morte não chegar,
A promessa fica feita:
“Haveremos” de voltar.
12.2.06
Hibernar
Ao longo dos próximos meses, as Catacumbas serão objecto de muito menor atenção da minha parte. Deixo ao Sebastião (com maior disponibilidade a partir de agora) o encargo de continuar com regularidade a actualização deste blog.
Virei de vez em quando, com algum link pertinente ou com algum quadro… até ter terminado a tese.
Civilização ou barbárie?
No Público da passada quarta-feira, Fernando Rosas assinou um artigo que pretendia denunciar a hipocrisia da comunidade internacional perante ambição do Irão ao domínio da tecnologia nuclear para fins pacíficos. O argumento decisivo de Rosas era o seguinte: se os EUA têm tecnologia nuclear para a paz e para a guerra, porquê limitar o acesso do Irão a essa tecnologia? Eis mais uma manifestação notável do duplipensar de certa esquerda, que sacrifica todos os factos a um bom argumento.
Os EUA fazem parte de um espaço político-ideológico de tradição liberal (defensor não apenas da democracia, mas das liberdades individuais e do governo limitado) no qual se situa, também, o Portugal do pós 25 de Abril. Apesar das diferenças entre a Europa e a América, não tenho qualquer dúvida de que temos muito mais em comum com a constituição americana que com a teocracia iraniana… e fico muito contente com isso!
Quando Fernando Rosas (que repetidamente chama mentirosos os líderes de Estados de Direito como os EUA, a Inglaterra ou a França) vem defender as ambições de tecnologia nuclear de Ahmadinejad (o mesmo que tem feito afirmações bem curiosas sobre o holocausto ou o estado de Israel) mostra bem de que lado está na batalha entre a civilização e a barbárie. Um lado que, com certeza, não é o meu!
(Aconselho uma visita ao delirante site da presidência iraniana, revelador de uma visão do mundo muito diversa da nossa. Alguns continuarão a dizer que é apenas uma visão diferente.)
11.2.06
9.2.06
A culpa
Achas que eu não sabia, por exemplo, que mal comecei a interrogar-me sobre se tinha direito ao poder, eu não tinha, precisamente por isso, esse direito? Ou que, se faço mim próprio a pergunta: uma pessoa é um piolho?, isso significa que ela não é um piolho para mim, só é piolho para aquele a quem esta pergunta nem passa pela cabeça e que vai em frente, sem fazer perguntas...
(Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo, Presença, 2001. P. 393.)
Dostioévski morreu há 125 anos.
Mais uma sugestão
Sobre o financiamento da educação em Portugal, por André Abrantes Amaral, n’O Insurgente.
(Não é meu costume deixar comentários anónimos, mas baralhei-me com o sitema do HaloScan...)
New blogs on the block *
* (Título com a cortesia da Miss Pearls.)
Passou-se! O Ministro dos Negócios Estrangeiros passou-se! Alguém tinham pedido a opinião do governo português? Ou será que Freitas decidiu usar o MNE como blog no qual postar as suas opiniões? (Já agora, podia ter aberto uma caixa para comentários...)
Com saudades das aulas na Faculdade de Direito, o Sr. Ministro decidiu ensinar aos portugueses o que é que eles devem pensar e sentir sobre a crise dos cartoons dinamarqueses.
E repare-se no estilo legislativo que adquiriu com a estadia no governo, ao decretar quais as imagens sagradas dos cristãos e dos muçulmanos! Fiquei a saber que Cristo e a Virgem Maria são os intocáveis!
Senhores cartonistas: se quiserem façam caricaturas do Papa, ou dos santos, brinquem com a cruz ou com o altar… O decreto do MNE fala de Cristo e da Virgem! Não gozem com Maomé, mas podem brincar com Meca e Medina. Aguarda-se com expectativa a publicação, em Diário da República, da lista dos símbolos intocáveis e dos símbolos gozáveis das diversas religiões.
8.2.06
Matizes, consideração e sugestões
O Miguel N. não entendeu como é que, “depois de um post sobre as limitações à liberdade de expressão podia colocar-me do lado da Dinamarca”. Pensei que isso ficava bem claro no último parágrafo! De qualquer modo, chamo a atenção para dois aspectos e acrescento uma consideração:
1) Não falei em limitações à liberdade no sentido de invocar o direito de alguém limitar a liberdade dos outros; antes preferi falar em liberdade limitada, remetendo para a própria natureza da liberdade. Nesse sentido, creio que o problema da publicação dos cartoons se coloca mais no âmbito da consciência dos autores e editores que no âmbito do delito público.
2) Se os cartonistas dinamarqueses se excederam, muito mais se excederam os activistas muçulmanos na onda de violência que têm promovido em tantos países. E, se não posso aprovar o abuso da liberdade de expressão nos países ocidentais, não tenho dúvidas em confiar que o Estado de Direito é uma defesa bem melhor face a esse abuso do que as teocracias islâmicas.
3) A onda de protestos criada pelos cartoons nos países árabes teve, apesar de tudo, uma virtude: mostrar a verdadeira face de um dos inimigos mais perigosos da Europa do século XXI. Quem acreditou que o 11 de Setembro era um problema da América, aqui tem a resposta.
Finalmente, duas sugestões sobre este assunto:
- No Blue Lounge, Rodrigo Adão da Fonseca, escreve sobre o Choque de Civilizações. Destacaria esta frase:
"quanto maior for a resistência e a força dos inimigos da liberdade, mais inteligente terá de ser o seu exercício."
- Na Mão Invisível, o Pedro Picoito apresenta o primeiro de vários posts sobre o novo orientalismo (espera-se ansiosamente a continuação).
6.2.06
5.2.06
Liberdade e "sentidos únicos"
A Liberdade é, provavelmente, um dos mais importantes conceitos cristãos! No final de um mundo antigo, cuja religião (e, portanto, a vida) era marcada pela ideia do fado, Agostinho de Hipona, na senda de uma tradição iniciada nos Evangelhos e nos textos paulinos, afirmou que o homem não está condenado pelo destino, mas dispõe de si próprio na ordenação dos meios de que se serve para atingir os seus fins. Esta génese do conceito de liberdade marcou-o ao longo de toda a história posterior até que o racionalismo iluminado e os irracionalismos que se lhe seguiram substituíram a indeterminação na escolha de meios por indeterminação na escolha dos fins. No entanto, alguns âmbitos relembram-nos que a liberdade é limitada: eu não sou livre de criar um círculo quadrado; do mesmo modo, e seguindo C. S. Lewis, eu não sou livre de criar uma nova cor primária. Por mais voltas que dê, encontro sempre a minha liberdade limitada pela minha natureza. O problema dos limites da liberdade coloca-se, portanto, não tanto quanto à existência, mas quanto à sua localização: se eu conseguisse descrever, sem ambiguidades, a natureza, conheceria os limites exactos da minha liberdade. No entanto, como não consigo descrever com exactidão esses limites, estabeleço balizas amplas dentro das quais reconheço um espaço de liberdade bem mais vasto que o da minha acção pessoal: se, por qualquer razão, acho que algo é de um modo determinado, sei que não tem que ser exactamente visto do mesmo modo por todos os outros, reconhecendo-lhes todo o direito para dissentir e actuar de modo contrário ao meu. Mais ainda: eu reconheço ainda que, em ordem a um bem maior, devo tolerar o mal objectivo de um determinado modo de pensar. Sendo cristão, reconheço que há muitos modos de viver a fé, e respeito todos, mesmo aqueles que me parecem mais extravagantes; e tolero que outros vivam outras religiões porque a alternativa seria a violência. Ou então, como português, tenho uma ideia sobre a política do meu país, sem com isso pôr em causa as ideias dos partidos concorrentes do campo democrático. Além disso, tolero os extremistas da esquerda ou da direita, na medida em que a sua acção não ponha em perigo os direitos fundamentais do meu país. Ou seja: respeito os que estão dentro dos limites da liberdade e tolero os que estão fora desses limites. E tolero-os não por respeitar as suas ideias mas, fundamentalmente, por respeitar as suas pessoas.
Quanto aos cartoons representando Maomé, eles foram aqui referidos antes de surgirem em força na blogosfera. Desde logo, referi-os sem os publicar, condenando as reacções exorbitantes de diversos países muçulmanos. De facto, e de acordo com as razões que acima referi, não considero que tenha liberdade para publicar aqui tudo o que sei! Tenho direito de publicar aqui aspectos da vida pessoal de figuras públicas? Penso que não! Mesmo se isso aumentasse o número dos meus leitores? Mesmo assim, não! Tenho direito a enxovalhar símbolos sagrados de uma qualquer religião? Penso que não!
Eu não gostei de que o Amoreiras usasse o Menino Jesus numa couve como publicidade natalícia; ou que a Bennetton fizesse publicidade com um padre a beijar uma freira; ou que que o Herman José satirizasse a Última Ceia: não havia, em nenhum dos casos, motivo nenhum que justificasse esses usos abusivos dos sinais da minha religião. Do mesmo modo, achei abusivos (e recusei-me a ver) determinados episódios da contra-informação, como os que ridicularizaram a orelha de Sousa Franco ou os que apresentaram uma imagem obesa e narcotizada da deputada comunista Odete Santos.
Quando me invocarem, em defesa de qualquer destes factos, a liberdade de expressão, creio que teria uma boa mão–cheia de liberdades para contra-argumentar: liberdade religiosa, direito ao bom-nome, direito à privacidade, etc… Além disso, não deixa de ser curioso que muitos dos paladinos da liberdade de expressão tenham a memória curta, esquecendo que. ainda não há muitas semanas, um grupo de euro-deputados pró aborto chegou à agressão de outros euro-deputados que promoveram uma exposição em que se comparava o aborto ao holocausto: os defensores da vida não têm direito à liberdade de expressão… E na semana passada, também no Parlamento Europeu, foi dado um passo significativo na criminalização de quem discordar do casamento gay, sob o apodo de homófobo. Em Portugal, o Pe. Serras Pereira foi condenado em tribunal por dizer que a IPPF (promotora do aborto a nível mundial) era uma organização serial killer; e houve também uma tentativa judicial para calar o Pe. Lereno por ter apelado ao boicote dos partidos que promovessem o aborto, o divórcio ou o casamento gay.
Assim, o que acima disse é válido para todos! A liberdade de expressão não pode ser entendida em sentido único, ou seja, no sentido de liberdade de expressão dos progressistas. E o que disse sobre a responsabilidade também é válido para todos.
O que me parece grave com os cartoons da Dinamarca é o facto de terem dado origem a uma crise perfeitamente evitável e estéril. Evitável porque assenta numa avaliação simplista do islamismo: tal como aconteceu no mundo árabe, em que se avaliou a Dinamarca por um dos seus jornais, também os cartoons tomavam a parte pelo todo, pondo a ridículo os muçulmanos a partir da ridicularização da sua figura sagrada. Estéril, porque muito pouco se ganhou com a publicação das imagens, e talvez se tenha perdido algo.
Finalmente: uma vez cometido o excesso, gerou-se a reacção da outra parte, reacção brutal e absolutamente desproporcionada, como reportaram as imagens que chegaram de diversos países árabes. Perante isso, não creio dever alterar nada do que aqui foi escrito, antes o reafirmo. No entanto, reafirmo também que a reacção foi absolutamente desproporcionada, revelando as diferenças significativas entre a liberdade que ainda temos no Ocidente e o fanatismo islâmico. Por isso, e em última análise, confrontado com a violência perante o erro, não posso senão ficar do lado da Dinamarca!
Quando terminava este texto, tive conhecimento deste comunicado da Santa Sé, publicado no Sábado, que me parece confirmar o que aqui escrevi.
1.2.06
Ninguém está imune!
Quem pensa que o terrorismo islâmico só atacou os EUA, a Espanha e o Reino Unido (e teme que a fotografia dos Açores comprometa Portugal) que se desengane com esta notícia. A questão já vinha sendo badalada há uns dias, e agora, depois da Dinamarca e da Noruega, chegou à França...
Aliás, este não é o primeiro caso da guerra aos "cartonistas", como revela esta história de 1987.