25.11.06

Sintam-se em casa!

- A casa não é minha mas, desculpe lá Lourenço, ofereço-a! - disse o Tomás.
E eu respondo ao ao Tomás, ao Tacci, à Ana Silva e ao nada pretensioso O Melhor dos Blogs:
- Mas: tenham a bondade! Não é abusar da minha paciência. Só peço desculpa por ser tão mau anfitrião. De qualquer modo, tenho a agradecer que tenham trazido o debate de volta a este blog, com a elevação e a serenidade que, infelizmente, vai faltando quando se trata de um tema tão delicado.
Aqui deixo um cálice de Porto, para animar o debate. E sugiro uma visita ao Portugal, Caramba!, que vale bem a pena pelas pinturas com que o Tacci ilustra os posts!

20.11.06

Como evitar um aborto?

Este post saído do draft suscitou comentários que me parecem dignos de nota. Tacci, do Portugal, Caramba!, comentou que a ideia de que a lei protege as mulheres do arbítrio dos que as obrigam ao aborto seria própria de um país ideal, no qual
De facto, eu não sei ao certo como evitar abortos em todas as situações, mas posso dar algumas pistas para muitas delas. Foi o que sugeriu Tomás, num outro comentário:
O erro de Tomás está na frase colocada entre parêntesis: infelizmente, poucas instituições que apoiam grávidas em risco são bem conhecidas. Tirando a Ajuda de Mãe e a Ajuda de Berço, é muito difícil para essas instituições a visibilidade que os media vão dando às plataformas pró-aborto que proliferam em vésperas de referendo.
Por isso, aqui fica a ligação para a lista de algumas dessas associações, disponível na página da Federação Portuguesa pela Vida.

19.11.06

O fim de um mundo...

Hoje, ao passear pela baixa, entrei nos Restauradores vindo do Rossio. Ao olhar para o Avenida Palace dei-me conta que o Lourenço e Santos tinha dado lugar a uma loja de lingerie...

16.11.06

Mónica

No último "Prós e Contras", a eurodeputada Edite Estrela considerou que o aborto poderia ser legítimo, caso a mãe descobrisse que a criança era portadora de trissomia 21.

Eu tenho uma irmã com olhos azuis. Chama-se Mónica, tem 22 anos e tirou o curso profissional de Serviços Básicos de Hospitalidade. Trabalha hoje numa pastelaria de Lisboa. Os olhos dela são lindos e ela é educada, feminina, anda sempre perfumada...

A Mónica é a minha irmã e irmã de mais três. Gostamos muito dela e ela é muito feliz. Dá unidade à família, está atenta sempre a todos e a cada um. A sra. eurodeputada não tem os olhos azuis, mas tem uns olhos tão bonitos como os da Mónica. Tem os talentos e as virtudes de avó e de mãe. E tem dificuldades; certamente também chora e se alegra, é mais uma das pessoas deste nosso planeta que acorda todas as manhãs e lava os dentes.

De certeza que já viu um pobre na rua e lhe estendeu a mão direita (a esquerda) ou as duas, ou olhou para uma prostituta e sentiu pena. De certeza que já ajudou alguém em apuros.

Gostávamos que viesse a nossa casa, provasse os "muffins" que a Mónica faz e visse o gosto com que ela põe a mesa. E descobrisse que esta menina de olhos azuis tem... trissomia 21. E ficaria bem contente por ela ter nascido. Tal como nós. Tal como qualquer pessoa.

Jaime Bilbao, Destak, 03.11.2006.

Eu conheço a Mónica: é verdade! E quando Edite Estrela usou esse argumento, lembrei-me da Mónica! E da Catarina, e do Nuno, e de vários outros, que estão à espera de saír da pasta dos rascunhos...

RIP - Milton Friedman

Milton Friedman, autor de uma das mais importantes reflexões sobre o papel do Estado na educação, faleceu hoje. Um devido tributo à sua memória é a releitura do célebre The Role of Government in Education, publicado há mais de 50 anos.

13.11.06

Saído do draft – Em nome da igualdade?

12.10.2006
Com frequência vemos argumentar: ninguém é a favor do aborto! Só que há as mulheres ricas que vão a Londres, e as que vão a Badajoz… e que as pobres, coitadinhas, têm que ficar pela parteira de vão de escada… Defender o direito ao aborto torna-se uma questão de igualdade. Só que dizer que se é contra o aborto e invocar o direito ao aborto por questões de igualdade é um contra-senso:
1. Se se considerar o aborto como um direito, defender a igualdade entre as portuguesas ricas e as portuguesas pobres faz sentido; o que não faz sentido é dizer que se é contra ele.
2. Se se negar que o aborto é um direito, obviamente que não será o facto de outros Estados o liberalizarem (pondo-o à disposição das nossas cidadãs ricas) que nos deve levar a imitá-los. Seria o mesmo que descriminalizar o apedrejamento de homossexuais porque os portugueses ricos o podem fazer, se viajarem ao Irão…

Saído do draft– Aborto: o crime estará mesmo na lei?

15.10.2006
A retórica favorável ao sim no referendo ao aborto afirma-se cheia de respeito e clemência pelas mulheres, invocando que pretende poupá-las à violência do aborto clandestino para o qual são empurradas… No entanto, creio que este argumento é, em absoluto, carente de sentido. Ora vejamos: há entre os defensores do “sim” dois grandes grupos:
a) por um lado, há o grupo mais vasto dos que defendem a liberalização do aborto como modo de contracepção (há aspectos ridículos nesta expressão, pois só com muito boa-vontade podemos chamar contracepção à morte de um feto com 10 semanas). O mote deste grupo é o célebre slogan o corpo é meu, a decisão também. Estes militantes são, inegavelmente, pró-aborto: com ânimo leve, defendem que o aborto é um direito. Custa-me vê-los invocar o sofrimento real das mulheres que foram empurradas para o aborto clandestino como argumento do seu discurso libertário: a sua campanha não é a das mulheres obrigadas a abortar um filho que não podem ter; é a das mulheres que pretendem abortar uma criança que não querem ter.
b) por outro lado, temos o grupo mais restrito dos que, sinceramente, defendem que a lei deve ser compreensiva com as mulheres que se encontraram com uma situação limite. Para estes, o aborto não deve ser encarado de ânimo leve: as mulheres são empurradas para o aborto por circunstâncias que, normalmente, lhes são exteriores: um parceiro que não quis assumir a paternidade, um patrão que ameaçou com o despedimento ou uma situação económica desesperada, etc... No entanto, invocar a despenalização nestes casos é uma estratégia extremamente arriscada, pois uma lei restritiva do aborto é a melhor garantia da mulher: perante o parceiro, o patrão ou a pobreza, a mulher está protegida por uma lei que a proíbe de abortar. Destruída essa lei, a tirania do parceiro, do patrão ou das circunstâncias será inexorável; e o aborto, que antes era um recurso extremo e brutal, passará a ser encarado como uma alternativa próxima e razoável.
Ironicamente, supondo proteger as mulheres, os defensores do sim estão a colocá-las sozinhas perante o dilema do aborto. E os defensores do não, parcendo implacáveis com elas, estão a criar alternativas para que possam contar com alguém quando, apesar das circunstâncias adversas, pretenderem prosseguir do lado da vida: a sua e a da criança que foi concebida no seu seio.

12.11.06

Saído do draft - Retomar de uma tradição

30.10.2006
Friedrich, uma vez mais.

Saído do draft – Dois anos

30.10.02006
Há já dois anos que estas Catacumbas viram a luz! E não estou a dizê-lo por acaso. Apesar de as Catacumbas serem espaços subterrâneos, elas só podem ser visitadas com uma luz que ilumina os seus nichos e capelas. Caso contrário, seriam perigosíssimas armadilhas.
Há dois anos, um facto político (o veto do Parlamento Europeu à inclusão de Rocco Butiglione na Comissão Europeia) tornou evidente que persistiam na Europa sinais de uma cultura anticristã. Alguns zombaram quando determinados autores ingleses e americanos falaram em cristofobia europeia. Só que os anos seguintes foram pródigos em acontecimentos que realçaram a existência de tal fenómeno. Uns mais caricatos (como a suspensão da trabalhadora da Bristish Airways que usava um crucifixo ao pescoço), outros mais graves (como a retórica anticlerical a que se permitiram governos como o espanhol ou o belga ou as directivas laicas da União Europeia), mas todos contrastantes com a retórica da liberdade que semeia os discursos políticos.
O anti cristianismo europeu é um resultado curioso daquilo a que Rawls, em Political Liberalism, denominou como consenso de sobreposição: para Rawls, nas sociedades coexistem doutrinas abrangentes, as quais têm pontos de encontro e pontos de confronto. Os pontos de encontro sobrepõem-se, permitindo criar um consenso em torno a aspectos básicos de gestão da coisa pública. O que Rawls não teve em conta é que, inevitavelmente, os pontos de sobreposição entre as diversas doutrinas abrangentes iriam erigir-se, eles próprios, em doutrina abrangente, excluindo a restantes doutrinas. O resultado é uma procedural republic, isto é, uma sociedade em que a moralidade não está relacionada com as coisas, mas com os procedimentos. Um exemplo do resultado deste modo de pensar é apresentado por Amy Guttman (uma rawlsiana que aplicou o consenso de sobreposição às questões educativas) que defende que a educação democrática é aquela que dá poder aos cidadãos para tomar qualquer decisão sobre o currículo, salvaguardados os princípios de não-repressão e de não-discriminação. A autora concluía deste modo: um tal sistema permite tomadas de decisão justas, mesmo que não sejam correctas. Este é o resultado do consenso de sobreposição: a dissociação entre a verdade e o bem; por outras palavras: o relativismo moral.
Contra este estado de coisas, já ouvi afirmar que os cristãos deviam fazer como os radicais islâmicos e iniciar ataques terroristas contra as instituições que os ameaçam: assim, pelo medo, talvez conseguissem ver respeitados os seus direitos…
Obviamente que não partilho tal opinião, apesar de achar que (a avliar pela experiência dos referidos radicais) ela tinha grandes hipóteses de sucesso. Só que há uma vinculação entre a moral e a verdade que coloca limites ao mal! E essa relação é descoberta pela razão. Por isso disse que as Catacumbas viram a luz: o mistério imperscrutável de Deus é acessível ao homem pela iluminação da Razão; entrar no mistério de Deus sem a Razão é perder-se no labirinto insondável desse mistério.
As Catacumbas têm sido uma tentativa de compreensão do mistério do Homem num diálogo entre a Fé e a Razão. Se o tempo o permitir, continuarão a sê-lo.

Saídos do draft

Ao longo dos últimos meses, não faltou vontade de postar… faltou tempo. E os posts, iniciados, iam ficando em rascunhos, à espera da edição final… Alguns surgirão nos próximos dias, se o trabalho e a tese o permitirem! Aos fiéis que, mesmo assim, visitam perseverantemente as Catacumbas, muito obrigado.