15.2.09

O ensino da História

Este post pode ter parecido algo enigmático. Ele surgiu na sequência de uma série de reflexões em torno à repetição, passados quase dez anos, da experiência de dar aulas de História a alunos do 7º ano e, acima de tudo, pelo espanto com a pobreza do manual que, nos anos anteriores, tinha sido seleccionado. Como confio nos meus colegas que fizeram a selecção, calculei que a opção fosse a menos má, facto que confirmei, quer nas conversas com os reponsáveis pela escolha quer pela análise de outros livros de texto que folheei.
O problema supera, no entanto, os manuais, situando-se nos próprios programas. Isto não desculpa os autores, que podiam tornear as questões, principalmente porque, sendo muitos deles relativamente jovens, tinham obrigação de ter aprendido algo nas universidades.
Mas não: parece que passaram pela Universidade sem adquirirem uma ideia nova ou uma perspectiva crítica sobre a cartilha que tinham estudado do 5º ao 12º ano. Mais de 30 anos volvidos sobre o PREC, as perspectivas dominantes continuam a ser as de uma liberdade adquirida pela luta e de um progressismo naïf, entusiasmado com o iluminismo e o positivismo, exaltando as vanguardas e criticando o conservadorismo das classes dominantes.
Além disso, a enfatização da História social e a marginalização da História política (herdada dos debates do séc. XX), ao exigir instrumentos metodológicos que estão além das possibilidades de um estudante de 12 anos, só com muito esforço pode gerar mais do que páginas vazias dedicadas ao quotidiano da antiguidade. Curiosamente, os alunos continuam a fazer as mesmas perguntas: quem matou César? Porquê? Moisés atravessou mesmo o Mar Vermelho? Porque é que os Egípcios mumificavam os corpos?
Dependendo do que se esperar da escola, o ensino da História deverá seguir uma ou outra orientação. Orientação não apenas na perpectiva ideológica (que é razoável que varie de acordo com o projecto educativo da escola) mas, pelo menos, na adequação ao meio em que a escola se insere, às características sócio-económicas dos alunos, etc.
Mas um professor que quiser dispensar um manual e usar, por exemplo, apontamentos da sua lavra, deverá pedir autorização à Direcção Regional de Educação respectiva. Isso mesmo: ela não informa: deve pedir autorização. Para que a autoridade possa vigiar o que se anda a ensinar?
Provavelmente, as críticas acima lavradas poderiam confundir-se com a ideia de que as autoridades não percebem nada sobre História. No entanto, tal suposição seria injusta: o controlo burocrático exercido sobre a escola revela que quem manda conhece muito bem, pelo menos na prática, o poder do ensino, e em particular o do ensino da História.

13.2.09

Estarão os portugueses preparados?

Com frequência ouvimos os políticos, a propósito de alguns temas mais melindrosos, dizer: não sei se os portugueses estarão preparados para esta discussão.
Foi assim com o aborto, é assim com o “casamento” entre homossexuais e está a ser assim com a eutanásia.

O que me questiono é se a afirmação está bem construída. Não ouvimos, normalmente, essas afirmações da parte dos que estão contra. Ouvimo-las, isso sim, da parte dos que se posicionam a favor de qualquer um daqueles actos. A afirmação deveria ser algo como: não sei se já haverá muitos portugueses a apoiar-nos nesta discussão.
É que os portugueses discutem com frequência (eu sou português e a maioria das pessoas com quem lido diariamente também o são) estes temas. Casamento dos homossexuais, eutanásia, aborto (incluindo o, para mim horrendo, partial birth abortion), se os padres se casam, se as mulheres podem ser padres, a guerra no Iraque, os mortos nos campos de concentração, os casos Freeport e Casa Pia, etc., são conversa diária de café.
Os portugueses estão preparados e desde há muito que discutem estes temas. Todavia, os portugueses ainda não aceitam, isso sim, totalmente as ideias de alguns ideólogos que apoiam actos atrozes sob a capa de um sentimentalismo absurdo. Graças a Deus!

O atestado de estupidez e de insignificância que nos passam estes políticos é de tal forma elevada que só merece uma resposta da nossa parte: os portugueses ainda não estão preparados para aceitar tão vergonhosa classe política...

12.2.09

E se pusermos umas bombas?

O deputado Holandês autor do filme Fitna, que associa o Corão ao terrorismo, foi proibido de entrar no Reino Unido...

11.2.09

11 de Fevereiro

Gostaria aqui de recordar o dia 11 de Fevereiro…
Dirão: 11 de Fevereiro?
Sim. Pior do que o 11 de Setembro ou do que o 11 de Março foi o nosso 11 de Fevereiro.
As vítimas do 11 de Setembro e do 11 de Março têm nomes. As vítimas de cada uma dessas datas têm um número determinado.
As vítimas do 11 de Fevereiro de 2007 serão incontáveis para sempre, não têm nome, não têm comemorações, não têm nada, porque tudo lhes foi negado antes de nascerem!


Peço a Deus pelos pais, muitas vezes sem capacidade para buscar ajuda numa situação de crise grave. Peço a Deus por todo o pessoal médico que aceita perpetrar estes actos. Peço a Deus por todos os que, médicos ou não, o continuam a fazer ilegalmente causando, tantas vezes, danos irreversíveis às mães.
Peço a Deus por todas as vítimas de aborto em Portugal!

Doublethink

A exploração de imagens chocantes pelos defensores da vida (as do aborto, por exemplo) é uma forma de terrorismo psicológico. A exploração de imagens chocantes pelos partidários da eutanásia é uma forma de elucidação da sociedade, admissível até em media politicamente correctos como a BBC. (Atenção, contém imagens chocantes)

8.2.09

Coincidência...

Sentei-me ao computador para escrever um pouco sobre o ensino da História e, antes de começar, dando uma volta pelos meus favoritos, encontrei este artigo na Spectator. Achei que estava tudo dito!
The oral epics of pre-literate cultures, from Homeric Greece to the Siberia of Maadai-Kara, saw poets revered as the guardians of national consciousness. In denying children the thrill of our own epic historical narrative we also deny them the option to compare, to judge, above all to refuse. Surely the point of all humanities teaching is not the regurgitation of whichever facts the government deems appropriate, but the ability, quite simply, to think?


7.2.09

Não há paciência...

Na mesma edição do Público em que se alerta, de modo alarmista, para o avanço da extrema-direita israelita, faz-se um retrato complacente (para não dizer entusiasta) do novo líder da extrema-esquerda desse país.
Não estudaram história?

4.2.09

Ooops!

Estranho que, neste caso do Bispo que negou o holocausto, os mesmos que advogam maior liberdade na Igreja vêm agora exigir uma proclamação dogmática sobre o Holocausto... Tal como o Cipriano, não estou a negar o Holocausto nem a desculpar o referido Bispo. Estou espantado pela confusão que reina em tantas cabeças, ou pela desonestidade, que se aproveita de qualquer acto para criticar o Papa e o Vaticano.

1.2.09

Yes, he can!*

Pode um bispo dizer que não acredita no holocausto? Sim, pode!
Pode um bispo dizer que não acredita nos átomos? Sim, pode!
Pode um bispo dizer que não acredita que o homem chegou à lua? Sim, pode!
Pode um bispo dizer que Picasso não sabia pintar? Sim, pode!
Pode um bispo dizer que foram o extra-terrestres a construir Machu Pichu? Sim, pode!
Pode um bispo dizer que Jesus Cristo não ressuscitou? Não, não pode!
Pode um bispo dizer que o Papa não é a cabeça da Igreja? Não, não pode!
Pode um bispo dizer que a Sagrada Eucaristia é apenas um símbolo de Deus? Não, não pode!
Pode um bispo dizer que a Santíssima Virgem Maria não foi concebida sem pecado? Não, não pode!
Há uma grande diferença entre as primeiras 5 perguntas e as últimas 4: só as últimas representam verdades de Fé e só as últimas obrigam directamente o Bispo Católico a defendê-las, se necessário, com a sua própria vida. Se o bispo disser que sim a qualquer uma das 5 primeiras questões, posso achá-lo um tontinho. Mas se o bispo afirmar todas as verdades de FÉ, nada lhe posso apontar directamente ao seu ministério.
As afirmações que têm sido levadas a cabo a propósito do Bispo Richard Williamson apenas me levam a pensar no seguinte:
1- Que, tal como na parábola, muitos católicos não estão dispostos a receber o irmão “pródigo", aquele que deixou a casa do Pai e a quem o Pai, na pessoa do Papa, recebe depois com amor!
2- Que os Judeus, passados mais de 50 anos sobre a 2ª Guerra Mundial, deveriam deixar-se de ser tão sensíveis. A ser verdade que alguém sugeriu já o corte de relações com o Vaticano, só demonstram não estar à altura de conseguir distinguir entre os assuntos de fé e outros. Por favor… não nego o Holocausto – até porque se o fizesse podia ir para a cadeia por negacionismo ou revisionismo histórico, verdade?
3- A entrevista do Bispo Williamson foi gravada em Novembro e passada só agora… A eficiência de quem gravou a entrevista deixa muito a desejar, ou estiveram à espera de uma oportunidade especial para a lançar?
* O título do post vem na sequência das palavras de Hans Kung que sugere um Obama como Papa. Hans Kung propõe, neste sentido, não só um Papa negro (o que nada me repugna) mas, também, um Papa abortista… Neste caso, já me sinto um pouco mais confundido. Mas depois que Saramago beatificou Obama, já tudo é possível.