Uma das máximas mais marcantes da extrema esquerda durante o PREC foi a ideia de que "não se podiam perder nas urnas as conquistas da revolução!" Afinal, "o Povo que mais ordena" não era bem o Povo, mas a sua vanguarda revolucionária que, independentemente da vontade que ele exprimisse nas urnas, deveria prosseguir a sua missão libertadora do jugo do grande capital. Esta ambiguidade foi habilmente explorada pelo Partido Comunista, que jogou, simultaneamente, no exército e no Parlamento, de modo a não ficar excluído nem da ditadura do proletariado nem da democracia burguesa.
Passados trinta anos, o PCP consegue transformar o Pavilhão Atlântico no maior Centro de Dia Nacional (com as carrinhas dos municípios alentejanos a permitirem um programa de Domingo com compras no Vasco da Gama e show com Jerónimo de Sousa).
Os verdadeiros herdeiros do PREC estão, agora, no Bloco. Como vanguarda do proletariado, eles sabem muito bem que é preciso manter a imagem do Estado de Direito, pelo que se dedicam longamente ao discurso moralista, invocando a sua pureza contra a corrupção do sistema. Mas, por outro lado, acabam a justificar todas as formas de desrespeito da livre expressão de opinião dos outros. Assim, os deputados incorruptos do Bloco vestem t-shirts pró-aborto no plenário e aprovam as faixas dos sindicalistas nas galerias quando está em votação o código do trabalho. Louçã comenta a sexualidade de Portas mas mantém o direito a insurgir-se se Santana comentar a sexualidade de Sócrates.
Ontem, em Coimbra, o Bloco voltou a fazer das suas: um grupo dos seus jovens apoiantes contra-manifestou-se na Praça onde decorria a acção de campanha de Cavaco Silva. ostentando uma faixa com lugares-comuns do Das Capital. Provocou, levou, e ainda se queixa de atentado à liberdade de expressão.
O mais provável é que Louçã não saiba nada das iniciativas imbecis dos seus jovens apoiantes. No entanto, foi pena não o ter ouvido repudiar tal comportamento. (As fidelidades no Bloco também não conseguiram uma crítica severa ao Querido Líder quando ele deslizou no direito de Portas a falar sobre a vida). No entanto, este é o modo próprio de actuar do Bloco, faz parte da sua natureza. Mesmo que Louçã seja sério, os seus apoiantes são gente perigosa. Imagine-se um Bloco no poder, em coligação, a fazer a tripla jogada no Conselho de Ministros, no Parlamento e entre os manifestantes do Largo de S. Bento!
No fim de contas, o Bloco aspira a um controlo totalitário do poder, guiando-se por regras que ele próprio define e das quais se isenta se lhe for conveniente! Seria caso para lhes chamar "faixistas"!